up:: 011a MOC Capital I

”Por força de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o conjunto das capacidades físicas e mentais que existem na corporeidade [Leiblichkeit], na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento sempre que produz valores de uso de qualquer tipo.” (MARX, 2013)

A força de trabalho é o conjunto de capacidades físicas e mentais de um trabalhador, as quais são postas em exercício durante períodos determinados de tempo.

A forma-mercadoria avança conforme a força de trabalho consolida-se como mercadoria

Como é uma relação arbitrária que trava-se entre os homens, há algumas condições que colocam-se como essenciais para o surgimento da força de trabalho como Mercadoria à disposição do capitalista.

”Para transformar dinheiro em capital, o possuidor de dinheiro tem, portanto, de encontrar no mercado de mercadorias o trabalhador livre, e livre em dois sentidos: de ser uma pessoa livre, que dispõe de sua força de trabalho como sua mercadoria, e de, por outro lado, ser alguém que não tem outra mercadoria para vender, estando livre e solto e carecendo absolutamente de todas as coisas necessárias à realização de sua força de trabalho.” (MARX, 2013, p. 244)

A principal é que A força de trabalho precisa ser temporalmente delimitada, pois é necessário que seu produtor – o trabalhador – receba algo equivalente por ela, o que assume implicitamente que ele continuará no mercado também como consumidor; “[oferece-a] ao consumo por um período determinado, portanto, sem renunciar, no momento em que vende, a seus direitos de propriedade sobre ela” (MARX, 2013, p. 242-3). Dessa forma, o capitalista individual abdica do produto totalmente usurpado de seus empregados (que seriam escravos), pressupondo que outros também o farão; ou seja, ele abdica do lucro aqui para que ele seja mais que compensado acolá1.

Ademais, outro pressuposto do surgimento da força de trabalho enquanto mercadoria é de que ela seja a única mercadoria que os trabalhadores possuam para lançar à venda no mercado. Isto é, os vendedores de sua força de trabalho são aqueles que não possuem Meios de Produção que permita-lhes sobreviver (i.e. produzir mercadorias para vender e pagar as contas). Ou seja, torna-se verdadeiramente uma necessidade “alugar” sua força vital a fim de comprar seus víveres2.

É por estes motivos, inclusive, que O fim do tráfico negreiro busca a universalização do trabalho assalariado: pois trata-se de uma enorme massa de indivíduos, completamente desprovida de meios de subsistência próprios, que torna-se disponível para ser empregada no Processo de Produção Capitalista.

A mercadoria força de trabalho

”O processo de consumo da força de trabalho é simultaneamente o processo de produção da mercadoria e do mais-valor” (p. 250)

O Valor de Uso da força de trabalho é justamente seu usufruto no processo de produção: quando seu corpo/mente trabalha na confecção da mercadoria em cuja produção ela estiver sendo empregada no momento.

”A força de trabalho existe apenas como disposição do indivíduo vivo. A sua produção [da força de trabalho] pressupõe, portanto, a existência dele. Dada a existência do indivíduo, a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção. Para sua manutenção, o indivíduo vivo necessita de certa quantidade de meios de subsistência.
(…) A quantidade dos meios de subsistência têm (…) de ser suficiente para manter o indivíduo trabalhador como tal em sua condição normal de vida.” (MARX, p. 245-6; grifo e destaque meus)

O Valor de uma mercadoria é o trabalho socialmente necessário para a sua produção. Dessa forma, o Valor da força de trabalho é justamente o valor dos meios de subsistência em quantidade suficiente tal que permitam que a força de trabalho opere de maneira normal: não só para permitir a sobrevivência do trabalhador, mas para que trabalhe de maneira normal3.

Portanto, o valor diário da força de trabalho é justamente o valor correspondente dos meios de subsistência necessários para sua manutenção/reprodução; na prática, não são o valor de manutenção diária, mas sim anual, em média.

Produção de mais-valor

O emprego da força de trabalho se dá de forma que ela produza um valor maior que o valor da própria força de trabalho; ou seja, produza um valor que consiga pagar seu valor e que ainda gere um excedente: o Mais-valor.

Tal geração de mais-valor é o que possibilita o Ciclo D─M─D’, o qual é a forma imediata/simples do Capital.


Referências

  • MARX, Karl. O capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
  • MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã, Boitempo Editorial, 2015.

Footnotes

  1. Dessa forma, o trabalho escravo que vemos hoje em dia torna-se uma exceção à regra, verdadeiramente mesquinha. Penso, em particular, no agronegócio no Brasil.

  2. “…cada um passa a ter um campo de atividade exclusivo e determinado (…) e assim deve permanecer se não quiser perder seu meio de vida” (MARX & ENGELS, p. 37-8).

  3. Nesses “custos” entram também a especialização, tal qual o custo que se teria para afiar uma faca.