up:: Salário
“A forma-salário extingue, portanto, todo vestígio da divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais-trabalho, em trabalho pago e trabalho não pago. Todo trabalho aparece como trabalho pago.” (MARX, p. 610)
É a forma que o Trabalho assume sob o Modo de Produção Capitalista. Os trabalhadores vendem sua Força de Trabalho1 ao capitalista, a fim de que possam comprar seus meios de subsistência.
Sob esta forma de trabalho, oculta-se a diferenciação da Jornada de Trabalho em Tempo de Trabalho Socialmente Necessário e Tempo Excedente de Trabalho; ou seja, oculta-se que há trabalho não pago fornecido ao capitalista, aparecendo ao trabalhador (e mesmo ao capitalista) como se todo seu tempo fosse remunerado2, inclusive devido ao fato de que “o dinheiro realiza, porém a posteriori, o valor ou o preço [da força de trabalho]” (MARX, p. 611)3.
Dessa forma, as variações do Valor da Força de Trabalho – que são a substância das variações dos salários – são efetivamente ocultadas, fazendo com que a variação dos salários4 apareça “necessariamente como variação do valor ou preço” das horas trabalhadas. Daí é um pulo o surgimento do Salário por tempo.
Um outro nível de ocultação é quando o capitalista paga não pelo tempo despendido pelo trabalhador, mas por mercadoria produzida, o que Marx chama de Salário por peça. Toda mercadoria requer uma quantidade de tempo para ser produzida, porém a produção individual chega a tal nível que resultados passam a ser cobrados por quantidade produzida, e não por tempo despendido.
Referências
- MARX, Karl. O Capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
Footnotes
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Pelo Preço da Força de Trabalho, que em geral difere do Valor da Força de Trabalho. ↩
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Inclusive, é dessa ilusão que surge todo o discurso moderno ser mais eficiente no trabalho, para fazê-lo “valer sua remuneração”… mesmo sabendo-se muito bem que cumprir todo o trabalho dado em menos tempo que a jornada inteira só trará mais trabalho a cumprir, para preencher o tempo restante. É até mesmo um caso extremo, pois o que é que será remunerado: o trabalho que já era pra ser cumprido, ou este mais o trabalho extra dado? Claramente o trabalho que é “remunerado” torna-se fluido, para não dizer arbitrário. ↩
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O valor de uso da força de trabalho “consiste apenas na exteriorização posterior dessa força. Por essa razão, a alienação da força” (i.e. sua venda) “e sua exteriorização efetiva, isto é, sua existência como valor de uso, são separadas por um intervalo de tempo. (…) Desse modo, o trabalhador adianta ao capitalista o valor de uso da força de trabalho; ele a entrega ao consumo do comprador antes de receber o pagamento de seu preço e, com isso, dá um crédito ao capitalista” (MARX, pp. 248-9). ↩
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Ou seja, a variação do Preço da Força de Trabalho. ↩