up:: 011a MOC Capital I
Dentro do contexto do Processo de Produção Capitalista, uma jornada de trabalho é composta do Tempo de Trabalho Socialmente Necessário – no qual a Força de Trabalho produz o próprio Valor da Força de Trabalho – e do Tempo Excedente de Trabalho – no qual produz Mais-Valor.
A forma-salário mistifica a relação de valor do trabalho assalariado, em que cria-se a ilusão de que o pagamento do Trabalho Assalariado (i.e. Salário) diz respeito à jornada inteira, não somente de forma a ressarcir-lhe o Valor da Força de Trabalho (i.e. somente o tempo necessário de trabalho).
“‘Que é uma jornada de trabalho?’ Quão longo é o tempo durante o qual o capital pode consumir a força de trabalho cujo valor diário ele paga? Por quanto tempo a jornada de trabalho pode ser prolongada além do tempo de trabalho necessário à reprodução da própria força de trabalho? A essas questões, como vimos, o capital responde: a jornada de trabalho contém 24 horas inteiras, deduzidas as poucas horas de repouso sem as quais a força de trabalho ficaria absolutamente incapacitada de realizar novamente seu serviço. Desde já, é evidente que o trabalhador, durante toda sua vida, não é senão força de trabalho, razão pela qual todo o seu tempo disponível é, por natureza e por direito, tempo de trabalho, que pertence, portanto, à autovalorização do capital. Tempo para a formação humana, para o desenvolvimento intelectual, para o cumprimento de funções sociais, para relações sociais, para o livre jogo das forças vitais e intelectuais, mesmo o tempo livre do domingo — e até mesmo no país do sabatismo [Inglaterra do século XIX] —, tudo isso é pura futilidade! Mas em seu impulso cego e desmedido, sua voracidade de lobisomem por mais-trabalho, o capital transgride não apenas os limites morais da jornada de trabalho, mas também seus limites puramente físicos. Ele usurpa o tempo para o crescimento, o desenvolvimento e a manutenção saudável do corpo. Rouba o tempo requerido para o consumo de ar puro e de luz solar. Avança sobre o horário das refeições e os incorpora, sempre que possível, ao processo de produção, fazendo com que os trabalhadores, como meros meios de produção, sejam abastecidos de alimentos do mesmo modo como a caldeira é abastecida de carvão, e a maquinaria, de graxa ou óleo. O sono saudável, necessário para a restauração, renovação e revigoramento da força vital, é reduzido pelo capital a não mais que um mínimo de horas de torpor absolutamente imprescindíveis ao reavivamento de um organismo completamente exaurido.” (MARX, p. 337-8)
Referências
- MARX, Karl. O Capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.