up:: Maquinaria // Fichamento Capital I Cap 13 - Maquinaria e Grande Indústria
“As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria inexistem, porquanto têm origem não na própria maquinaria, mas em sua utilização capitalista! Como, portanto, considerada em si mesma, ela facilita o trabalho, ao passo que, utilizada de modo capitalista, ela aumenta sua intensidade; como, por si mesma, ela é uma vitória do homem sobre as forças da natureza, ao passo que, utilizada de modo capitalista, ela subjuga o homem por intermédio das forças da natureza; como, por si mesma, ela aumenta a riqueza do produtor, ao passo que, utilizada de modo capitalista, ela o empobrece etc. – o economista burguês declara simplesmente que a observação da maquinaria, considerada em si mesma, demonstra com absoluta precisão que essas contradições palpáveis não são mais do que a aparência da realidade comum, não existindo por si mesmas e, portanto, tampouco na teoria. Ele se poupa, assim, da necessidade de continuar a quebrar a cabeça e, além disso, imputa a seu adversário a tolice de combater não a utilização capitalista da maquinaria, mas a própria maquinaria.” (MARX, p. 513-4)
Quando critica-se as consequências do uso de tecnologia no Processo de Trabalho – como Maquinaria, computadores ou, atualmente, Inteligência Artificial –, critica-se não a facilitação que estes Meios de Trabalho fornecem ao Trabalho, e sim seu uso capitalista; quando, ao invés de reduzir a Jornada de Trabalho, funcionam como instrumentos de incremento dela, etc.
Justamente no Processo de Produção Capitalista é que o uso de tais inovações tecnológicas buscam a extração maior de Mais-Valor, não a redução da faina do homem. As Externalidades que advêm desse uso – a mais evidente sendo Desemprego – são contingentes ao capitalista em si, que vê tudo como mera reconfiguração da Composição Técnica de seu capital: mais capital cristalizado em Capital Constante e bem menos empregado “a contragosto” em Capital Variável.
“O economista burguês não nega em absoluto que, com isso, surjam também alguns inconvenientes temporários; mas que medalha haverá sem seu reverso1? Para ele, é impossível outra utilização da maquinaria que não a capitalista. A exploração do trabalhador pela máquina é, a seu ver, idêntica à exploração da máquina pelo trabalhador. De modo que quem revela o que ocorre na realidade com a utilização capitalista da maquinaria é alguém que se opõe a sua utilização em geral, é um inimigo do progresso social.” (MARX, p. 514; grifo meu)
Isso é essencialmente uma straw man fallacy, em que a crítica ao uso capitalista da maquinaria é condenado (até de forma moral) como o uso geral da maquinaria, e, portanto, como uma crítica ao “progresso social” e ao bem-estar que estas tecnologias evidentemente trouxeram ao mundo. Aquele que responde dessa forma efetivamente castela-se num palácio moral, vendo as condições abjetas que o uso dessas tecnologias trazem como contingências necessárias ao progresso/bem-estar geral. “Para se fazer um omelete, é preciso quebrar alguns ovos”…
A crítica, no final do dia, “sempre”2 é no tocante ao modo de produção capitalista.
Referências
- MARX, Karl. O Capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.