up:: Cooperação

“Como pessoas individuais, os trabalhadores são indivíduos isolados, que entram numa relação com o mesmo capital, mas não entre si. Sua cooperação começa somente no processo de trabalho, mas então eles já não pertencem mais a si mesmos. Com a entrada no processo de trabalho, são incorporados ao capital. Como cooperadores, membros de um organismo laborativo, eles próprios não são mais do que um modo de existência específico do capital. A força produtiva que o trabalhador desenvolve como trabalhador social é, assim, força produtiva do capital. A força produtiva social do trabalho se desenvolve gratuitamente sempre que os trabalhadores se encontrem sob determinadas condições, e é o capital que os coloca sob essas condições. Pelo fato de a força produtiva social do trabalho não custar nada ao capital e, por outro lado, não ser desenvolvida pelo trabalhador antes que seu próprio trabalho pertença ao capital, ela aparece como força produtiva que o capital possui por natureza, como sua força produtiva imanente.” (MARX, p. 408; grifo meu)

Pode parecer absurdo dizer que “a força produtiva social1 do trabalho não custar nada ao capital”, pois pode-se dizer que há custos de contratação da Força de Trabalho, dos Meios de Produção, de sua “supervisão” etc.

Uma analogia que penso é com compostos químicos: eu posso comprá-los, posso até pagar pessoas para que monitorem as reações químicas ao misturá-los, mas, ao fim e ao cabo, não estou pagando pela reação dos compostos entre si; a reação2 deles depende da afinidade intrínseca dos compostos, independente de minha vontade ou dinheiro despendido. Similarmente, pode-se comprar força de trabalho e os meios de trabalho necessários à cooperação, mas não pode-se comprar diretamente a cooperação em si, somente indiretamente, e deixá-la correr seu curso.

Assim como pode-se “forçar” reações químicas não-tão-espontâneas a ocorrerem (através de catalisadores químicos ou emprego de calor), o emprego de gerentes e supervisores também pode auxiliar no processo de Cooperação de trabalhadores assalariados: porém, assim como catalisadores podem agilizar uma reação química, ainda depende-se da afinidade intrínseca dos elementos em combinarem-se como desejado.

Caso empreguem-se recursos demasiados para a cooperação de trabalhadores, então não é mais cooperação: é escravidão3!


Referências

  • MARX, Karl. O Capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.

Footnotes

  1. Leia-se: força produtiva conjunta.

  2. Reação espontânea, sem ser (demasiado) forçada.

  3. Ou seja: não é mais dominação sutil, e sim dominação explícita.