up:: 011a MOC Capital I // Fichamento Capital I Cap 12 - Manufatura
“O modo de surgimento da manufatura, sua formação a partir do artesanato, é, portanto, duplo. Por um lado, ela parte da combinação de ofícios autônomos e diversos, que são privados de sua autonomia e unilateralizados até se converterem em meras operações parciais e mutuamente complementares no processo de produção de uma única e mesma mercadoria. Por outro lado, ela parte da cooperação de artesãos do mesmo tipo, decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas operações particulares, isolando-as e autonomizando-as até que cada uma delas se torne uma função exclusiva de um trabalhador específico. Por um lado, portanto, a manufatura introduz a divisão do trabalho num processo de produção, ou desenvolve a divisão do trabalho já existente; por outro, ela combina ofícios que até então eram separados. Mas seja qual for seu ponto de partida particular, sua configuração final é a mesma: um mecanismo de produção, cujos órgãos são seres humanos.” (MARX, p. 413; grifo meu)
Uma manufatura é a agregação (Cooperação) de trabalhadores num mesmo local em que cada um deles “perdem gradualmente, com o costume [Gewohnheit], a capacidade de exercer seu antigo ofício em toda sua amplitude”, transformando o processo de produção em um conjunto de “diversas operações específicas, processo no qual cada operação se cristalizou como função exclusiva de um trabalhador” (seja ele um indivíduo ou vários), “sendo sua totalidade executada pela união desses trabalhadores parciais” (MARX, p. 411).
É essencialmente a origem da Divisão do Trabalho conscientemente operada por agentes capitalistas no Modo de Produção Capitalista. A ‘racionalização’ do trabalho como atividades específicas para trabalhadores1 específicos faz com que estas atividades parciais tornem-se mais eficientes2. Como resultado, obtém-se uma consolidação do “caráter normal do trabalho”, ao buscar extrair o máximo de trabalho possível dos trabalhadores empregados.
É justamente sobre o pressuposto de que “em dado tempo de trabalho, obtém-se um dado resultado” de forma consistente – consistência esta adquirida através da experiência e especialização do trabalho – que jaz a possibilidade de eficiência e continuidade do processo manufatureiro total3.
É interessante que, na manufatura, é o próprio processo de produção que induz ao trabalhador que não gaste mais do que o Tempo de Trabalho Socialmente Necessário para a produção das mercadorias parciais, enquanto, no mercado, é a concorrência que induz esta exigência ao capitalista. Introjeta-se a lei do valor no próprio processo de produção: a exigência que afligia o capitalista, dia e noite, agora aflige o trabalhador durante todo seu tempo de trabalho4.
Relação com alienação do trabalho
“Os conhecimentos, a compreensão e a vontade que o camponês ou artesão independente desenvolve, ainda que em pequena escala (…), passam a ser exigidos apenas pela oficina em sua totalidade. As potências intelectuais da produção, ampliando sua escala por um lado, desaparecem por muitos outros lados. O que os trabalhadores parciais perdem concentra-se diante deles no capital. Constitui um produto da divisão manufatureira do trabalho opor-lhes” (aos trabalhadores parciais) “as potências intelectuais do processo material como propriedade alheia e como poder que os domina. Esse processo de cisão começa na cooperação simples, em que o capitalista representa diante dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho, desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, fazendo dele um trabalhador parcial, e se completa na grande indústria, que separa o trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a obriga a servir ao capital.” (MARX, p. 435; grifo meu)
É na manufatura onde a Alienação do Trabalho torna-se mais explícita. Justamente pela divisão do trabalho, agora o trabalhador individual per se não mais possui um papel relevante no processo de produção – somente o trabalhador coletivo/“social” desempenha o papel crucial de Trabalho no processo de produção5.
A dominação precede a ideia, e a ideia ilustra a dominação, e a alienação do trabalho acaba sendo o reflexo da relação de dominação do capitalista sobre os trabalhadores que contrata6.
Referências
- MARX, Karl. O Capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
Footnotes
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Individuais ou coletivos. ↩
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Num sentido fisiológico mesmo, cf. Regra de Hebb: “neurons that fire together, wire together”. ↩
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“Apenas sob esse pressuposto os processos de trabalho diferentes e mutuamente complementares podem prosseguir justapostos espacialmente, de modo simultâneo e ininterrupto.” (MARX, p. 419) ↩
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É um pulo para que essa obrigação de eficiência no trabalho espraie-se para a vida subjetiva. Cf. Formas de objetividade e de subjetividade capitalistas (Monografia Lukács) e Uma visão etnográfica da Faria Lima ─ Sobre a moral e a eficiência capitalistas. ↩
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“O que caracteriza a divisão [manufatureira] do trabalho? Que o trabalhador parcial não produz mercadoria. Apenas o produto comum [“gemeinsame Produkt”] dos trabalhadores parciais converte-se em mercadoria.” (MARX, p. 429; grifo e adendo meus). ↩
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Os quais fornecem a Mercadoria Força de Trabalho que ele compra no mercado. É pertinente não se confundir o trabalhador com seu trabalho, que é o Valor de Uso de sua força de trabalho (cf. MARX, p. 606-7). ↩