up:: 011b MOC Capital II

Formalmente, o ciclo do capital-dinheiro pode ser simplificadamente visto como o Ciclo D─M─D’, em que “mistifica-se” que o Mais-Valor surge da produção, parecendo surgir puramente da circulação.1

Ao destacar a presença da produção, o ciclo pode ser escrito como

onde destaca-se que há uma relação dialética entre circulação e produção: para que haja circulação de Capital, deve haver produção, a qual “nega” a circulação, interrompe-a; para que haja produção, deve haver circulação (de Meios de Produção e Força de Trabalho), a qual interrompe o processo de produção, nega-o.

Neste ciclo específico do Capital Industrial, a produção aparece como mera mediadora dos dois polos da circulação: a compra , e a venda , em que o processo é associado à própria circulação2.

“O processo de produção aparece apenas como inevitável elo intermediário, um mal necessário ao ato de fazer dinheiro.” (MARX, p. 135)

Relação com classes sociais

O livre funcionamento do capital depende da criação da classe de assalariados, i.e. depende de um mercado em que o capitalista encontre meios de produção e força de trabalho à venda. Para que isso ocorra, é preciso que existam indivíduos que sejam “livres”, i.e. que não possuam outra forma de sobreviver3 senão ao vender sua capacidade de Trabalho; isso só ocorre com indivíduos que não possuam meios de produção. Portanto, o ciclo do capital-dinheiro pressupõe que haja uma cisão entre aqueles que podem possuir meios de produção, e aqueles que não os possuem e, portanto, precisam vender sua capacidade corpórea (sua “única” mercadoria) para sobreviver.

Shortcomings da visão deste ciclo

Analisar o capital industrial meramente pelo ciclo do capital-dinheiro pode mistificar certas características necessárias a este processo. Por exemplo, de onde vem esse inicial? De onde vêm os meios de produção ?

A primeira questão é melhor compreendida pelo Ciclo do Capital Produtivo: ele vem da venda de , produzido previamente.4 A segunda questão é melhor compreendida pelo Ciclo do Capital-Mercadoria: os meios de produção são produzidos por outros capitalistas, são o de seus capitais (industriais) individuais.


Referências

  • MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Livro 2: O processo de circulação do capital. Boitempo Editorial, 2014.

Footnotes

  1. É sob esta “ilusão real” que os (proto-)economistas dos séculos XVI e XVII desenvolveram o Mercantilismo.

  2. P. ex. o comerciante “que vende mais caro que compra”, ou, na literatura mais recente, o “leiloeiro walrasiano”.

  3. Numa economia de mercado, em que sobreviver pressupõe que a satisfação de necessidades requer Dinheiro.

  4. “O primeiro ciclo [do capital-dinheiro] termina com , e como , tanto quanto o original, pode iniciar o segundo ciclo de novo como capital [dinheiro], não era preciso, por ora, analisar se e (o mais-valor) contidos em continuavam a andar juntos ou trilhavam caminhos separados. Isso só teria sido necessário se tivéssemos continuado a acompanhar o primeiro ciclo em sua renovação.” (MARX, p. 144; grifo no original)