“Na forma M─D─M, a mesma peça monetária muda duas vezes de lugar. O processo inteiro, que começa com o recebimento de dinheiro em troca de mercadoria [M─D], conclui-se com o dispêndio de dinheiro por mercadoria [D─M].
(…) O ciclo M─D─M parte do extremo de uma mercadoria e conclui-se com o extremo de outra mercadoria, que abandona a circulação e ingressa no consumo, (…) [o qual] é seu fim último.” (MARX, 2013, p. 225-6; grifo meu)

Trata-se da venda (M─D) de uma Mercadoria, e da compra posterior (D─M’) de outra mercadoria1 pelo mesmo Valor.

Ou seja, o ciclo M–D–M efetivamente trata-se (para o indivíduo que o reproduz) da troca de uma mercadoria sem uso por uma mercadoria que lhe seja útil, e da troca de mãos do Dinheiro .

Note-se que tal ciclo está “centralizado” por algum produtor , o qual serve de intermediário para a circulação de dinheiro . Dessa forma, “[o dinheiro] sempre precipita em algum lugar da circulação deixado desocupado pelas mercadorias” (MARX, p. 186).

A dialética do ciclo M–D–M

”A externalização [Entäusserung] da forma original da mercadoria se consuma mediante a alienação [Veräusserung] da mercadoria, isto é, no momento em que seu valor de uso atrai efetivamente o ouro que, em seu preço, era apenas representado. Desse modo, a realização do preço ou da forma de valor apenas ideal da mercadoria é, simultânea e inversamente, a realização do valor de uso apenas ideal do dinheiro, a conversão de mercadoria em dinheiro e, simultaneamente, de dinheiro em mercadoria.” (MARX, 2013, p. 182; grifo meu)

Quando há efetivamente a venda de uma mercadoria no mercado, por algum preço , ocorre uma alteração da forma desta mercadoria: o mesmo valor que estava corporificado em (i.e. sua Forma-Mercadoria) está agora “transmutado” em (i.e. sua Forma-Dinheiro).

Tal como o valor é a forma abstrata do valor de uso da mercadoria, a forma-dinheiro é a forma abstrata, indistinta, da forma-mercadoria, pela qual ela pode confrontar-se com todas as outras mercadorias livre e quantitativamente2.

Justamente através da “alienação” da mercadoria , de cujo Valor de Uso seu portador não se beneficiava, é que efetiva-se o valor de uso do dinheiro ; o que antes o dinheiro podia somente in potentia, ele agora cumpre in esse3.

”E tudo aquilo que tu não podes, teu dinheiro pode: ele pode comer, beber, ir ao baile, ao teatro, ele conhece a arte, a erudição, as raridades históricas, o poder político, ele pode viajar, ele pode apropriar-se de tudo para ti; ele pode comprar tudo; ele é a verdadeira capacidade.” (MARX, 2017, p. 294)


Referências

  • MARX, Karl. O capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
  • MARX, Karl. Manuscritos Econômicos Filosóficos. São Paulo: Martin Claret. 2017.

Footnotes

  1. Necessariamente diferente da mercadoria inicial, pois Só pode haver troca com relação a mercadorias diferentes.

  2. Caso o processo de troca esteja desenvolvido suficientemente, tal que a forma-mercadoria tenha penetrado suficientemente nos produtos do Trabalho humano.

  3. Não me é claro se in esse é o contraposto de in potentia, o Wiktionary é bem confuso quanto a isso.