up:: Valor

”Para produzir mercadoria, [deve-se] produzir não apenas valor de uso, mas valor de uso para outrem, valor de uso social. {E não somente para outrem. O camponês medieval produzia a talha para o senhor feudal, o dízimo para o padre, mas nem por isso a talha ou o dízimo se tornavam mercadorias. Para se tornar mercadoria, é preciso que, por meio da troca, o produto seja transferido a outrem, a quem vai servir como valor de uso.} Por último, nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso. Se ela é inútil, também o é o trabalho nela contido, [que portanto] não conta como trabalho e não cria, por isso, nenhum valor.” (MARX, p. 119, adendo entre chaves de Engels; grifo meu)

Temos que é verdade que

Algo que é Valor é algo que possui uma quantidade de trabalho abstrato; portanto, como é algo material, é oriundo de algum trabalho útil particular1; possui, portanto, Valor de Uso.

Equivalentemente, por contrapositiva, temos2

Ou seja, aquilo que não é Valor de Uso não pode ser Valor: por não ser valor de uso, não é composto de trabalho útil e, portanto, não pode ser composto de nenhum trabalho abstrato; portanto, não possui valor.

A linha lógica inteira dos argumentos acima é

Relação com troca

”Portanto, [as mercadorias] precisam universalmente mudar de mãos. Mas essa mudança de mãos constitui uma troca, e essa troca as relaciona umas com as outras como valores e as realiza como valores. Por isso, as mercadorias têm de se realizar como valores antes que possam se realizar como valores de uso.” (MARX, p. 160; grifo meu)

Porém, ocorre uma certa “inversão” quando tratamos das relações de troca: justamente porque, no Processo de Produção Capitalista, busca-se a produção de Mercadorias a fim de que sejam vendidas, ocorre que elas só podem ser usufruídas como valores de uso após terem sido realizadas como valores, numa relação de troca!

Ou seja, não obstante o fato de que o valor de uso é necessariamente o recipiente corpóreo do valor, sem o qual este não pode existir, uma mercadoria não pode ser usufruída por outrem sem que realize-se enquanto valor, sem que entre no espaço da troca e seja trocada por alguma outra mercadoria no processo (usualmente Dinheiro).


Referências

  • MARX, Karl. O Capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.

Footnotes

  1. Em suas aulas de Teoria da História na FFLCH-USP, Jorge Grespan fazia a piada de que não podia esperar que o “Ser Humano Universal” respondesse sua chamada de presença em suas aulas. Da mesma forma, não existem mercadorias universais – somente mercadorias particulares, oriundas de trabalhos úteis particulares.

  2. é o símbolo matemático de negação de alguma asserção lógica : quer dizer a negação da asserção , ou “não-”.