O Capital, I ─ Cap 5, O processo de trabalho e o processo de valorização
O Processo de Produção Capitalista
O processo de produção no modo de produção capitalista possui duas formas opostas:
- O processo de trabalho, que gera Valor de Uso
- O processo de valorização, que gera Valor e Mais-Valor
Paralelos entre relação dialética da mercadoria com a relação dialética do trabalho
“Assim como a própria mercadoria é unidade de valor de uso e valor, seu processo de produção tem de ser a unidade de processo de trabalho e o processo de formação de valor.” (p. 263)
O Processo de Trabalho
Tal processo diz respeito a uma forma específica do trabalho humano, visando a produção de um valor de uso específico.
Seus elementos característicos são
- o sujeito que realiza o trabalho
- os instrumentos empregados nesse trabalho (Meios de Produção)
- o objeto sobre o qual se trabalha
Os instrumentos do trabalho
Estes são os meios do trabalho, posto que encontram-se entre o ser humano (o sujeito) e seu objeto de trabalho; são o “meio condutor” pelo qual ele realiza sua atividade, uma espécie de extensão de seus membros.
Objetos obtidos i-mediatamente na natureza (além dos meios de subsistência) servem como meios de trabalho.
O objeto do trabalho
O objeto do trabalho pode ou ser obtido imediatamente da natureza, ou então ter sido “filtrado” pelo trabalho humano: neste caso, chamamo-los de Matéria-Prima.
Matérias-primas podem tanto ser minérios que foram coletados de uma mina (ou seja, mais imediatamente naturais), ou peças pré-produzidas em outra fábrica e que serão montadas em outra (mais próximos da ação humana/“confeccionados”).
O processo de trabalho no capitalismo
“De seu ponto de vista [do capitalista], o processo de trabalho não é mais que o consumo da mercadoria por ele comprada, a força de trabalho, que, no entanto, ele só pode consumir desde que lhe acrescente os meios de produção.
O processo de trabalho se realiza entre coisas que o capitalista comprou, entre coisas que lhe pertencem. Assim, o produto desse processo tanto lhe pertence quanto o produto do processo de fermentação em sua adega” (p. 262-3)
- O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista: o capitalista se incumbe de assegurar a utilização adequada dos meios de produção, controlando tanto a qualidade quanto a quantidade de trabalho empregado pela Força de Trabalho
- O produto do trabalho pertence ao capitalista, posto que todos os objetos empregados no processo lhe pertencem
O Processo de Valorização
“Aqui, os valores de uso só são produzidos porque e na medida em que são o substrato material, os suportes do Valor de Troca.
E, para nosso capitalista, trata-se de duas coisas.
Primeiramente, ele quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca (…).
Em segundo lugar, quer produzir uma mercadoria cujo valor seja maior do que a soma do valor das mercadorias requeridas para sua produção, os meios de produção e a força de trabalho, para cuja compra ele adiantou seu dinheiro no mercado.Ele quer produzir não só um valor de uso, mas uma mercadoria;
não só valor de uso, mas valor, e não só valor, mas também mais-valor.” (p. 263)
É o processo de criação do valor, que se extende além do ponto em que a força de trabalho produziu o equivalente a seu próprio valor e produz um excedente ─ o mais-valor.
Portanto, o valor da Mercadoria produzida pela Força de Trabalho tem seu valor igual ao
- valor dos meios de produção empregados (O Capital, I ─ Cap 6, Capital constante e capital variável)
- + valor da força de trabalho
- + mais-valor
Transformação do dinheiro em Capital
“Esse ciclo inteiro, a transformação [do] dinheiro em capital, ocorre no interior da esfera da circulação, porque é determinado pela compra da força de trabalho no mercado. Mas ocorre fora da circulação, pois esta [a esfera da circulação] apenas dá início ao processo de valorização, que tem lugar na esfera da produção.” (p. 271)
O que é caracterizado como Tempo de Trabalho Socialmente Necessário
“…o trabalho só importa na medida em que o tempo gasto na produção do valor de uso [mercadorias] é socialmente necessário, o que implica diversos fatores.
A força de trabalho tem de funcionar sob condições normais. (…) Contudo, o caráter normal dos fatores objetivos de trabalho não depende do trabalhador, e sim do capitalista [que é o fornecedor dos meios de produção empregados].
Uma outra condição é o caráter normal da própria força de trabalho. No ramo de produção em que é empregada, ela tem de possuir o padrão médio de habilidade, eficiência e celeridade. (…) Tal força tem de ser aplicada com a quantidade média de esforço e com o grau de intensidade socialmente usual, e o capitalista controla o trabalhador para que este não desperdice nenhum segundo de trabalho. Ele comprou a força de trabalho por um período determinado, e insiste em obter o que é seu. Não quer ser furtado.
Por fim (…), é vedado qualquer consumo desnecessário de matéria-prima e meios de trabalho, pois material e meios de trabalho desperdiçados representam o dispêndio desnecessário de certa quantidade de trabalho objetivado, portanto, trabalho que não conta e não toma parte no produto do processo de formação de valor.” (p. 272)
Referências
- O Capital, Livro I, Karl Marx.