“Os homens não relacionam entre si seus produtos do trabalho como valores por considerarem essas coisas meros invólucros materiais de trabalho humano de mesmo tipo.
Ao contrário. Porque equiparam entre si seus produtos de diferentes tipos na troca (como valores), eles equiparam entre si seus diferentes trabalhos como trabalho humano [abstrato].
Eles não sabem disso, mas o fazem.” (O Capital, p. 149)
(Imagem do filme Love, Simon)
O fetichismo da mercadoria consiste na atribuição de valor como um atributo natural, “trivial”, a valores de uso. Tal caráter das Mercadorias somente aparecem comumente numa sociedade desenvolvida plenamente (no capitalismo), ou seja, quando as mercadorias são produzidas justamente para serem vendidas (i.e. são produzidas por seu valor de troca).
As características dos trabalhos úteis que criaram as mercadorias aparecem-lhes como características intrínsecas e naturais, objetivas:
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A igualdade dos trabalhos humanos (qualitativamente diferentes) manifesta-se como uma igual objetividade de valor (quantitativamente igual e, logo, comparável) entre mercadorias.
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A medida de trabalho abstrato assume a forma da grandeza de valor das mercadorias;
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As relações sociais entre os produtores privados aparecem como uma relação social entre as mercadorias.
Ou seja, tal “ilusão real” faz com que a Relação de Troca (entre produtores privados) apareça como sendo “mediada” pelas mercadorias envolvidas, e onde as mercadorias são os “sujeitos” da interação.
“A única linguagem inteligível que nós falamos um com o outro são nossos objetos em sua relação de um com o outro. Nós não entendemos uma linguagem humana, e ela ficaria sem efeito.” (MARX apud ELBE, p. 26-7)
Ou seja, dentro do contexto de troca, tem-se a percepção de que é possível proceder sem a percepção de que esteja travando-se uma relação social, humana: quer-se uma certa mercadoria ao pagar-se tal valor em Dinheiro e fim, “mais nada”.
O fetichismo da mercadoria espraia-se a todos os recônditos da sociedade com a difusão da Forma-Mercadoria. Como Eduardo Galeano aponta, historicamente O fim do tráfico negreiro busca a universalização do trabalho assalariado.
Referências
- MARX, Karl. O capital-Livro 1: Crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
- ELBE, Ingo. Trabalho alienado e abstrato. In: MARX, Karl. Manuscritos Econômicos Filosóficos. São Paulo: Martin Claret. 2017.
- Marxismo e psicanálise: o mito do egoísmo inato, Eleutério F. S. Prado: https://outraspalavras.net/alemdamercadoria/marxismo-e-psicanalise-o-mito-do-egoismo-inato/?utm_source=pocket_mylist