up:: 0x51 MOC Dissertação Mestrado
Brookes 2000
Tipos de eficiência energética:
- “Eficiência entáplica” (1ª Lei Termo): argumenta que eletricidade é “ineficiente”, pois “it takes about three terms of input fuel to produce one therm of electrical output” (p. 355)
- “Eficiência entrópica/termodinâmica” (2ª Lei Termo): argumenta que eletricidade é “muito eficiente”, pois “the increase in entropy involved is closer to the theoretical ideal than it is for most industrial energetic processes” (ibid.)
- “Eficiência econômica”: eletricidade é forma “mais eficiente” de “send ‘coal by wire’”, ainda que com eficiência menor que 100%, do que o consumo direto do combustível (ibid.)
“In the discussion in the ensuing sections of this submission, unless otherwise indicated, when the author refers to measures to raise ‘energy efficiency’ or ‘energy productivity’[,] he is referring to deliberate action to raise the cost effectiveness of the use of fuel and electrical energy by such means as:
- raising the engineering effciency of conversion of fuels to useful heat or work.
- increasing the effectiveness of the associated energy service by, for example, higher standards of insulation.” (p. 356)
Isso é uma forma de diminuição do Valor? Posto que se trata das condições (normais) de produção de energia (útil). Pode até ser uma forma de aumento de eficiência econômica, mas vejo como sendo um efeito indireto, ainda mais pelo comentário logo em seguida:
“These two categories may be considered collectively as examples of action to lower the cost of the energy input to a given energy service or of raising the level of the service obtainable from a given energy input cost.” (grifo meu)
(Portanto vendo, ao menos, pelo Preço de Custo, que ainda está atrelado à configuração de valor da energia produzida.)
Suponhamos que se empregue um Capital Variável , respectivo Mais-Valor , e Capital Constante , que se separa em
se separando em Capital Fixo e (parcialmente) Capital Circulante, com a parcela de valor contribuída por fatores associados a energia e Matéria-Prima não-associada a energia (e.g. materiais de produção, plástico etc).
Suponha-se que este valor é associado a certa porcentagem de eficiência energética . A ideia que imagino é de que, caso seja mais eficiente, ele será capaz de produzir mais unidades da Mercadoria em questão; isso não necessariamente diz respeito a seu próprio valor, diz mais respeito à estrutura de produção e de como ela consegue harness essa maior eficiência de produção. No fim e ao cabo, trata-se de eficiência no sentido de Sá Barreto (2022): dada uma quantidade de inputs, o output é maior com maior eficiência; i.e. com a mesma quantidade de valor, produz-se mais mercadorias, portanto com menor valor individual.
Um caso possível é a simples diminuição do valor da energia , p. ex. chuvas que aumentam o fluxo das hidrelétricas, diminuindo o valor de sua respectiva produção elétrica. Tal caso, como visto, não precisa estar associado a alguma “inovação” tecnológica, podendo dar-se simplesmente por fatores extra-produtivos, como intempéries. Neste caso, naturalmente um capitalista que já esteja disposto a gastar um valor na produção pode escolher consumir mais destes recursos mais barateados a fim de que “não desperdice nada de “.
Toda produção terá uma Composição Técnica do Capital , que, vide acima, divide-se como
Mas isso talvez seja misleading, pois o emprego produtivo de energia requer capital constante, e o emprego de capital constante requer (algum) capital variável para produzir mais-valor. É já aqui que há uma quebra com a economia ortodoxa de energia, que separa o consumo energético do consumo dos “demais” fatores ( e ).
Este é o cerne da discussão marxista do fenômeno Khazzoom-Brookes: a maior eficiência energética do capital social total induzirá algum fenômeno de backfire, justamente pela própria lógica do capital de valorizar-se. Haverá certamente algum rebound, justamente porque a liberação de “capital energético” proporcionará (como em um efeito substituição) maior consumo de capital constante e variável, que, por sua vez, empregarão energia.
Tal fenômeno não pode estar restrito à produção, por se tratar do capital social. Tem a ver também com a questão da circulação, e, em particular, com a velocidade da circulação do capital. Khazzoom-Brookes é falso quando olhado para firmas particulares, pois varia o efeito rebound nelas.
Rebound effect
Efeito rebound é o efeito líquido da variação advinda da eficiência energética, no sentido de
Ou seja, maior fator de eficiência faz com que para um dado nível de Produto Agregado . I.e. .
Podemos, portanto, comparar os efeitos de fatores de eficiência diferentes )através de (cf. SAUNDERS, 2009))

Fonte: SAUNDERS, 2009, p. 171.
O efeito rebound advindo dessa mudança de eficiência é a resultante de dois efeitos:
- Efeito intensidade: um aumento de  admite uma diminuição respectiva de  (e vice-versa), de tal forma que ainda mantenha-se no mesmo nível de produção 
- Vendo no gráfico acima, como as retas intersectam no , os pontos que intersectam a curva de são , o inverso da intensidade . Portanto, conforme aumenta, diminui, portanto aumentando a inclinação da reta que intersecta a curva de nível de — i.e. diminuindo o input de energia necessário para alcançar este nível
 
- Efeito output: um aumento da eficiência faz com que a produção, para dados níveis de inputs , seja
Dessa forma, o efeito rebound é um análogo do Efeito Preço, resultante de Efeito Substituição e Efeito Renda. Há uma escala deste efeito, no seguinte sentido:
- : Há superconservação de energia, um efeito desproporcional de poupança maior do que o esperado.
- : Há um aumento de eficiência tal que o produto se mantém o mesmo — há uma diminuição de input de energia pari passu: supondo que [i.e. este aqui usado é o inverso do utilizado por Saunders acima],
- : A diminuição de input de energia é menor que o aumento da energia:
- : Não há diminuição de input de energia:
- : Há aumento do input de energia:
Ou seja, há uma comparação entre a energia poupada esperada — — e a energia poupada efetiva — .
onde seria a eficiência efetiva e a eficiência projetada.
Neste sentido, o rebound é a medida de quanto da poupança esperada foi perdida. Se se diz que houve de rebound, quer dizer que somente houve poupança de do total esperado, i.e. dessa poupança foi re-empregada no processo produtivo.
O acima discutido, porém, analisa somente o efeito imediato da eficiência do componente energia, mas podemos também ter efeitos rebound advindos dos outros inputs. Tudo depende da Elasticidade de Substituição da produção em consideração.
Referências
- BROOKES, Leonard G. Energy efficiency fallacies revisited. Energy Policy, v. 28, n. 6, p. 355–366, 1 jun. 2000.
- SAUNDERS, Harry. Theoretical foundations of the rebound effect. In: EVANS, Joanne; HUNT, Lester C. (Orgs.). International handbook on the economics of energy. Cheltenham: Edward Elgar, 2009.
- BARRETO, Eduardo Sá. Ecologia Marxista para pessoas sem tempo. São Paulo, SP: Usina Editorial, 2022.