“Subordina-se portanto inteiramente a tais objetivos e não conta com forças próprias e existência autônoma.
Uma conjuntura internacional favorável a um produto qualquer que [a colônia seja] capaz de fornecer impulsiona o seu funcionamento e dá a impressão puramente ilusória de riqueza e prosperidade. Mas basta que aquela conjuntura se desloque, ou que se esgotem os recursos naturais disponíveis, para que aquela produção decline e pereça, tornando impossível manter a vida que ela alimentava.
(…) Para isso, imediatamente, se mobilizam os elementos necessários: povoa-se uma certa área do território mais conveniente com empresários e dirigentes brancos e trabalhadores escravos ─ verdadeira turma de trabalho─, desbrava-se o solo e instala-se nele o aparelhamento material necessário; e com isto se organiza a produção. (…) continuar-se-á até o esgotamento final ou dos recursos naturais disponíveis, ou da conjuntura econômica favorável.” (Caio Prado Jr, p. 126; grifo meu)

  • O Ciclo colonial da cana-de-açúcar surgiu quando da demanda europeia pelo condimento, e aniquila-se frente a fatores externos ─ a produção exacerbada nas Antilhas, as variações de preços, a downward spiral econômica que senhores de engenho sofreram por dívidas e produções insuficientes
  • O Ciclo colonial do ouro teve um ímpeto devido às condições naturais favoráveis e mercado europeu, e teve sua decadência quando do esgotamento das minas ─ principalmente devido a métodos precários de extração
  • O ciclo colonial do algodão, breve mas pujante, foi para abastecer a demanda inglesa de tecidos em plena Revolução Industrial ao final do século XVIII.

Extrapolação para o “ciclo da soja” no século XXI

Atualmente pode-se dizer que estamos em um novo ciclo econômico: o ciclo da soja. Ele caracteriza-se da mesma forma que Caio Prado Júnior o coloca: há uma exploração de homens brancos (muitos descendentes longínquos de antigos colonos…) que empregam a mão-de-obra de outrem (em geral pessoas racializadas), buscando exclusivamente a produção de uma monocultura para o mercado internacional (em particular para a China).

No caso, é um ciclo acoplado ao Capital: invés do colono, temos o dono dos Meios de Produção, empregando a Força de Trabalho de trabalhadores “livremente” dispostos a vendê-la1, produzindo uma Monocultura a fins de vendê-la ao mercado internacional. Ao fazê-lo, esgotam a capacidade das terras em que plantam e logo buscam continuar sua produção algures ─ expandindo a Fronteira Agrícola Brasil acima. E, no instante que tal demanda esgotar-se lá fora, o que nos restará serão “restos, farrapos de uma pequena parcela de humanidade” (assim como do meio ambiente) “em decomposição” (p. 127) ─ é visível que A exploração brasileira ‘até o sabugo’ é um resquício colonial.


Referências

  • Formação do Brasil Contemporâneo, Caio Prado Júnior (1942!!!).
  • As Veias Abertas da América Latina, Eduardo Galeano. L&PM Pocket.

Footnotes

  1. Tão livres quanto alguém é de procurar e se submeter a algum emprego de fome.