O capital acumulado no comércio triangular ─ manufaturas, escravos, açúcar ─ tornou possível a invenção da máquina a vapor.” (GALEANO, p. 121)

O comércio de escravos, no século XVII e principalmente no XVIII, era dominado por poucas empresas ─ em geral britânicas, oficiais ou piratas ─ e acumulavam lucros exorbitantes.

Afinal, a produção açucareira na América Latina era composta essencialmente de mão-de-obra escrava: mercadorias vindas do outro lado do Oceano, com “tempo de obsolescência” bem limitado (devido não só às condições de trabalho, mas às chagas ─ físicas, psicológicas ─ advindas da travessia do Oceano em navios negreiros).

Como a expansão do Capital requer o financiamento de novas empreitadas1, acabou sendo uma consequência natural que, nos primórdios da Revolução Industrial, os principais mercadores negreiros da Inglaterra fossem os principais financiadores de James Watt e de outros inventores ingleses.

Também consoante a expansão do capital sob a Revolução Industrial, a maior expansão de mercadorias tinha de ser suprida pela maior demanda de seus produtos ─ o que pressupunha a universalização da Forma-Mercadoria, também afetando a Força de Trabalho destinada aos trabalhos coloniais: hence os incentivos antiescravistas impulsionados pela própria Inglaterra no século XIX.2 É por isso que O fim do tráfico negreiro busca a universalização do trabalho assalariado.

Adendo 241125: A relação é bidirecional, pois a própria produção em Economias Agroexportadoras foram incentivadas a empregar mão-de-obra escrava para atender à grande indústria do século XIX.

“Assim, com a expansão do sistema fabril num ramo industrial” (i.e. emprego de Maquinarias e ‘liberação’ de Força de Trabalho humana etc.), “aumenta inicialmente a produção em outros ramos que lhe fornecem seus meios de produção. (…) quanto à matéria-prima, não resta dúvida, por exemplo, de que a marcha acelerada da fiação de algodão alavancou artificialmente a cultura de algodão nos Estados Unidos e, com ela, não só incentivou o tráfico de escravos africanos como, ao mesmo tempo, fez da criação de negros o principal negócio dos assim chamados estados escravistas fronteiriços.” (MARX, p. 515-6)


Referências

  • GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. L&PM Editores, 2010.
  • MARX, Karl. O capital. Livro 1: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.

Footnotes

  1. I.e. maior realocação de capital a fins de Reprodução Ampliada do Capital.

  2. Dentre tais decretos estão aqueles pelos quais a Inglaterra proíbe o tráfico negreiro no Brasil, em 1845.
    Adendo 241125: tais proibições também agiram como uma forma de coibir a crescente autonomia que as elites do recém-emancipado Império estavam adquirindo, em particular no tocante às vantagens alfandegárias que a Inglaterra tinha adquirido no Brasil, principalmente desde a abertura dos portos em 1810 (cf. Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil, cap. XVII – “Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política”).