O Capital, I ─ Cap 11, Cooperação

Está na Seção IV do Capital, cujos capítulos são

  • X: Conceito de mais-valia relativa
  • XI: Cooperação
  • XII: Divisão do Trabalho e Manufatura
  • XIII: Maquinaria e grande indústria
    nos quais Marx dá uma contextualização histórica do surgimento do processo de trabalho especificamente capitalista, indo da cooperação, passando pela manufatura, e consolidando-se na grande indústria. Tais transformações do trabalho favorecem a produção de mais-valia pela via relativa.

Objetivo da aula

  • Compreender o surgimento da produção capitalista
  • Compreender conceito de cooperação
  • Compreender como cooperação permite o surgimento da mais-valia relativa

O surgimento da produção no capitalismo

”Como vimos, a produção capitalista só começa, de fato, quando o mesmo capital individual emprega simultaneamente um número maior de trabalhadores; quando, portanto, o processo de trabalho aumenta seu volume e fornece produtos numa escala quantatitvamente maior que antes.
A atividade de um número maior de trabalhadores, ao mesmo tempo e no mesmo lugar (ou, se se preferir, no mesmo campo de batalha), para a produção do mesmo tipo de mercadoria, sob o comando do mesmo capitalista: tal é histórica e conceitualmente o ponto de partida da produção capitalista.” (p. 397)

  1. Fase do Artesanato (até 1500): Surgimento de Burgos, produção controlada por artesãos e regulamentada via corporações de ofício
  2. Cooperação simples (> 1500; primórdios de manufatura): Capitalistas comerciais controlam distribuição de mercadorias; passam a controlar sua produção reunindo vários artesãos num mesmo espaço físico
  3. Cooperação + Divisão do Trabalho (1550-1750; desenvolvimento da manufatura): Capitalismo industrial, consolidação de fábricas, transformações no processo de trabalho com aprofundamento da divisão do trabalho (ainda há reação adversa à mecanização do trabalho)
  4. Mecanização: a divisão do trabalho permite a mecanização do trabalho, com a introdução de máquinas

Definição: Cooperação

”Forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente, lado a lado e conjuntamente, no mesmo processo de produção, ou em processos de produção diferentes, mas conexos, chama-se cooperação” (p. 400; menciona Destutt de Tracy)

Não é uma característica capitalista, estando presente há milênios nas obras da humanidade. Porém, no capitalismo, significa a reunião de trabalhadores num mesmo espaço, para utilizar os mesmos Meios de Produção (de algum capitalista que os emprega).

No começo, porém, não há tanta modificação no processo de Trabalho em si; inicialmente, artesãos trabalham entre si, salvo o compartilhamento dos meios de produção (que não lhes pertencem). Inicialmente, portanto, Marx diz que é o início da subordinação formal do trabalho ao Capital. Somente há uma “subordinação real” do trabalho ao capital quando…?

Efeitos da cooperação sobre o Valor das mercadorias

  1. Torna a Força de Trabalho mais potente; reduz o tempo de trabalho necessário (pelo aumento da produtividade do trabalho); portanto, reduz o valor da mercadoria. A força de trabalho se torna mais potente sem nada custar a mais para o capitalista^[Realmente? Pois desconhecidos não se dispõem a trabalhar conjuntamente sem algum custo…]
    O trabalho se torna mais potente quando:
    1.1) O trabalho individual se transforma em trabalho social médio; o mero contato social entre trabalhadores (trabalho em equipe) promove a emulação; é uma espécie de “mimetismo” dos trabalhadores uns pelos outros…?
    1.2) Força de trabalho individual se transforma em força de trabalho combinada (forma mais simples do trabalho coletivo), em que vários trabalhadores “combinam” suas forças em uma tarefa comum (e.g. trabalhadores da construção civil carregando tijolos).

  2. Utilização comum de meios de produção, a qual reduz o Capital Constante transferido às mercadorias; portanto, reduz o valor das mercadorias.
    2.1) aumenta a escala, reduzindo a quantidade gasta com meios de produção

    ”Mas produção de uma oficina para 20 pessoas custa menos trabalho do que a produção de 10 oficinas para 2 pessoas cada uma”

    2.2) reduz o valor individual da mercadoria, pois otimiza a utilização de máquinas (do ponto de vista técnico do trabalho), pois a mesma quantidade de Depreciação despendida em uma jornada de utilização da máquina é transferida para uma maior quantidade de mercadorias, logo o valor individual de cada mercadoria se reduz

  3. Reduz falsos custos: melhor definidos no livro II, são custos que, entrando ou não no preço, são deduções do sobreproduto (Mais-valor) para a manutenção da outra parte do produto (trabalho produtivo).
    3.1) Custos puros de circulação (compra e venda, contabilidade, custos com produção de dinheiro) são deduzidos da mais-valia; tem impacto sobre a taxa média de lucro
    3.2) Custos de manutenção das mercadorias em estado de venda/estoque acrescem o preço da mercadoria; representa uma redução do valor da mercadoria

Pressupostos e implicações da Cooperação

  • Pressuposto 1: requer grande concentração de capital (dinheiro) para
    • Contratar grande quantidade de trabalhadores
    • Comprar quantidade suficiente de meios de produção
  • Implicação 1: controle do processo de trabalho pelo capital, subordinação do trabalho ao capital

    ”é a primeira modificação que o processo de trabalho real experimenta pela sua subordinação ao capital”

    • Porém, como o resultado do processo de trabalho ainda depende da subjetividade/qualidade da força de trabalho (trabalhadores ainda trabalham da mesma forma prévia, não têm seu processo de trabalho modificado, somente a organização e controle do processo), tal subordinação ainda é meramente formal

Referências

  • O Capital, Livro I, Karl Marx.