up:: 240903 Notas Economia Brasileira

Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Brasil saem dos anos de ouro (~1906-1910/1912), com a Caixa de Conversão (1906) e 1º Plano de Valorização do Café. Capital vem para financiar o café (e borracha momentaneamente), estocagens para estabilizar os preços, uns dos quais conseguem já serem vendidos, preços do café subindo etc. Condições bem favoráveis.

Porém, Políticas Monetárias são apertadas desde Murtinho: políticas de Padrão-Ouro restringem emissões grandemente. Taxas de Juros caem.

Balanço de Pagamentos começam a inverter: queda nas exportações de borracha – abrupta e relevante, 25% a 0% das exportações em 2 anos, por concorrência grande da Ásia (plantação de facto, invés de extrativismo) –, pagamentos do principal do Funding Loan (1898), e problemas com fluxos de capitais estrangeiros (medidas internacionais para instigar refluxo de capitais).

Durante a Guerra, fluxos de capitais ficam piores, com uma aceleração das saídas devido à Caixa de Conversões aberta por tempo demais (?).

Exportações (Macroeconomia) têm problemas devido à guerra em si (questões de logística), mas ao final da guerra por questões de preços (1917). Importações (Macroeconomia) naturalmente caem drasticamente.

Fim de Caixa de Conversão, e Regime de Câmbio Flutuante. Ampliação das emissões, mesmo que inconversíveis, para aumentar oferta de moeda – em parte para financiar dívida pública também.

Renegociação da dívida: 2º Funding Loan (1914): 13 anos para pagar principal, 3 anos para pagar juros.

Déficits fiscais

Aumento de Gastos Públicos (Macroeconomia), despesas com secas (Nordeste) e infraestrutura.

Queda das receitas, devido à queda de importações: há muita reconversão produtiva de produtos metálicos na Europa.

Surgem impostos sobre Consumo (para tentar compensar falta de arrecadação de impostos de importações), mas são revertidos.

Questão inflacionária

Há problemas de Inflação devido à questão da Taxa de Câmbio, mas não devido a problemas de produção: é justamente por problemas internacionais, em função da guerra. Crise de suprimentos como trigo.

2º Plano de Valorização do Café (1917): financiamento interno pelo Banco do Brasil, com certa Política Monetária Expansionista; a curto prazo dá certo (estocagem e financiamento), mas induz um descontrole da oferta – não há mais impostos sobre novos cultivos, além de que em 1918 há um overshooting nos preços devido ao fim da Guerra (a despeito da geada no mesmo ano).

Década de 1920

Aumento de commodities em geral pós-guerra (1918-1919) exportações crescem como um todo. Importações crescem também, devido à demanda reprimida.

1920: reversão externa, devido à queda de exportações europeias (por retração pós-guerra) em face às demandas de importação altas.

1921: Crise cambial, desvalorização de câmbio face à crise.

3º Plano de Valorização do Café (1921): financiamento misto, a princípio financiamento interno (criação de CARED1), depois com empréstimos externos – mas com retenção de estoques no Brasil, bem melhor do que no primeiro plano, onde muito dinheiro era perdido devido às taxas das casas de exportação estrangeiras nas quais o produto era estocado. Deixa casas de exportação PUTAS (mais indispostas, digamos) com o Brasil.

1922-1923: problemas com finanças públicas e Inflação.

Artur Bernardes (1922-1926)

Balanço de Pagamentos bem vulnerável, com descontrole interno, piorando em 1923 (aceleração de desvalorização).

Choque recessivo em 1924. Induz Plano de Defesa Permanente do Café (1924) em 1924:

  • São Paulo conta com armazéns reguladores (Instituto de Defesa do Café de São Paulo é responsável)
  • Dificuldades de financiamento
  • Dificuldades de manutenção dos preços, em particular da oferta maior que a demanda, às vezes menos, às vezes muito mais

A crítica é de que estas medidas de “defesa” até agora não coibiram a produção, mas incentivaram a produção e eventual excedentes de oferta – defenderam até demais!

Desvalorização Cambial até 1924 (meio de Artur Bernardes), e com valorização cambial até 1927. A partir disso, Regime de Câmbio Fixo, até Vargas.

Washington Luís (1926-1930)

Caixa de Estabilização (1927), inclusive Vargas era ministro da Fazenda de Washington Luís2!!

1928: início de deterioração dos quadros externos, grande crescimento de importações, mais que exportações3, estancamento de entrada de capitais – diminuição do crescimento econômico, entrada em recessão.

Pioramento do Balanço de Pagamentos: saída de capitais pela manutenção prolongada demais da Caixa de Estabilização (1927), queda de exportações.

Crise de 1929

No tocante ao Brasil, dois motivos: a saída de capitais (recessão global) e queda das exportações (também pela recessão).

Interpretação de Celso Furtado: Crise e superação

Crise de 1929 é momento de transição de Modelo Primário-Exportador para industrial. Anos 30 são momento de “deslocamento do centro dinâmico da economia brasileira”: a renda passa a ser determinada não mais puramente pelas Exportações (Macroeconomia), mas pela demanda interna (Consumo) e Investimentos (Macroeconomia) associados.

Peláez indica duas vertentes que Furtado usa para analisar a superação dessa crise pelo Brasil:

  1. Vertente da Manutenção (da renda e da demanda):
    • Em 1931, Vargas acaba criando uma defesa do café, pelo seu peso na economia doméstica: estocagem de parte da produção, e quotas de sacrifício/queima de café. Ideia de queimar cerca de 1/3 de todo o café produzido anualmente, em média. Em 1937, queima-se 70% de todo café produzido (PIB do Brasil volta a crescer em 1933/1934, provavelmente plantios dão frutos em 1937…).
    • Financiamento por crédito doméstico (heterodoxo): Política Keynesiana Anticíclica4, com objetivo de manter Renda Agregada (Nominal), Demanda Agregada e nível de trabalho (diminuir efeitos Multiplicadores negativos sobre a economia)
  2. Vertente do Deslocamento (da demanda):

A pergunta é: de onde vem a capacidade produtiva para substituição de importações?
Furtado: “capacidade ociosa”… mas de onde?6
Reinvestimento dos lucros e reaproveitamento de investimentos de outros setores:

  • Algodão, que não só exporta, mas também é pertinente à economia doméstica (bens de consumo não-duráveis, roupas)
  • Transferência de capital investido no café (e que não estava rendendo menos durante a Depressão)

Materialmente:

  • O dinheiro vem de reinvestimento de lucros e de outros setores que tinham foco no exterior, agora utilizado para o setor doméstico
  • O dinheiro se materializa em capital, máquinas, através de importações, naturalmente (embora em menor grau que antes), e de bens de capital de setores mais improdutivos no país (e.g. café). Acaba dinamizando também a própria indústria doméstica de bens de capital

Furtado defende que o Deslocamento do Centro Dinâmico, pela parte de Vargas, não foi intencional – o que é controverso, há divergências7.

Em 1937, a intencionalidade é clara: “ou industrializo o país, ou pago a dívida externa”. Enfim, decorar: Furtado não vê intencionalidade no desenvolvimentismo industrial de Vargas8.

Teses furtadianas

Industrialização brasileira ocorre com uma ruptura de relações econÔmicas até então adotadas: há uma negação do princípio de Vantagem Comparada no tocante à especialização do Modelo Agroexportador. Para isso, se requeriu uma intervenção governamental enorme, tanto de Políticas Fiscais (queimas de café) e quanto Políticas Monetárias (emissões sem contrapartida). Ou seja, liberais (mais ortodoxos) não gostam muito disso!

Críticas de Peláez

Críticas “empíricas” mas ideológicas a certo ponto:

  • Recuperação do Brasil não foi tão rápida assim, e a crise não foi tão pequena (em particular comparado com EUA)
  • Parte substancial da recuperação se deveu ao crescimento de exportações de algodão: i.e. não é uma ruptura com Vantagem Comparada
  • Defesa do café foi financiada com empréstimos externos e impostos sobre vendas de café: intervenção não foi heterodoxa, e Estado não fugiu ao orçamento equilibrado, i.e. manteve ortodoxia monetária

Erros do Peláez

  • Divergências quanto a valores da queda da renda;
  • Magnitudes dos empréstimos externos:
    • Suzigan: Só £4M, dos £20M que foram concedidos ao Brasil, de fato chegaram ao uso (Coffee Realization Loan)
    • Metade das políticas fiscais são financiados por impostos, e metade por expansão de crédito
  • Peso das exportações de algodão ajudam, até a financiar importações de bens de capital, mas não têm peso suficiente para induzir crescimento econômico com peso assertivo. O que realmente puxou são setores domésticos industriais

Bases de crescimento na década de 1930

Indústrias mais importantes:

  • Têxtil (~algodão)
    • Inclusive com utilização de capacidade ociosa
  • Vestuário (~algodão)
  • Alimentos

Indústrias mais dinâmicas:

  • Cimento (construção civil)
  • Papel (celulose?)
  • Metalurgia

Há uma exportação de carnes do Brasil (até faltando domesticamente no processo…).

Ampliação da capacidade produtiva (em indústrias mais avançadas em particular). Mudança da pauta de importações


References

Footnotes

  1. Carteira de Redesconto, do Banco do Brasil: instrumento de política monetária como empréstimo de liquidez a empresas.

  2. Getúlio Vargas – Wikipédia, a enciclopédia livre.

  3. Tendência ao Desequilíbrio Externo

  4. Ironicamente, em 1932, antes do livro do Keynes.

  5. Não só nominal, efeito desprezível (?) de Inflação.

  6. Inclusive há uma discussão de como a população no período colonial, até próximo da República, estava mais dispersa e sob um outro estilo de vida (ok, em menor grau na República, mas são condições históricas legadas pela República) (FURTADO, p. 120-122).

  7. Pelo amor de Deus, quantas indústrias públicas foram criadas nessa época!!! É sério mesmo???

  8. Que estupidez, até parece que Furtado achava isso não ironicamente…