up:: 011a MOC Capital I

O Salário por peça “não é senão uma forma modificada de salário por tempo”, em que aparece-se que “o valor de uso vendido pelo trabalhador não é função de sua força de trabalho, trabalho vivo, mas trabalho já objetivado no produto”, e de que o preço das Mercadorias produzidas não depende da fração , de Valor produzido que distribui-se sobre o tempo da Jornada de Trabalho, “mas pela capacidade de produção do produtor” (MARX, p. 621; grifo meu).

“No salário por tempo, o trabalho se mede por sua duração imediata; no salário por peça, pela quantidade de produtos em que o trabalho se condensa durante um tempo determinado” (MARX, p. 623; grifo meu)

No fim das contas, o salário por peça é uma forma mais mistificada, mas ainda assim derivada, do salário por tempo, o qual é, por sua vez, uma forma mistificada da relação de Valor e de Trabalho Assalariado.

Exploração do trabalhador por trabalhador

“A prática nos permite estabelecer a quantidade média de produto de 1 hora de trabalho” (MARX, p. 623)

O capitalista só aceita o produto com qualidade média “minimamente aceitável”, portanto torna-se supérfluo “grande parte da supervisão do trabalho”: aos trabalhadores que não seguirem os padrões de indústria, rua!

“A exploração dos trabalhadores pelo capital se efetiva, aqui, mediante a exploração do trabalhador pelo trabalhador”, não só do trabalhador por si mesmo — induzindo um incentivo à máxima produção individual, portanto induzindo um aumento da intensidade média de trabalho socialmente1 —, como de contratação de auxiliares pelos próprios trabalhadores (que tiverem condições melhores, a que seus auxiliares terão condições piores, evidentemente).

A forma do salário em si não induz maior extração de Mais-Valor: como se trata, ao fim e ao cabo, de produção ao longo do tempo, e como se é pago pelo Tempo de Trabalho Socialmente Necessário sempre2, então a Massa de mais-valor que o indivíduo produz é

Ou seja, a massa de mais-valor que ele produz é meramente o mais-valor produzido no processo — nem mais, nem menos.

Ou seja, mesmo que se pagasse “devidamente”3 ao trabalhador, não se extrairia mais ou menos do que de mais-valor. Mesmo que todos os capitalistas fossem perfeitamente éticos, ainda assim ocorreria a extração de mais-valor.

O que muda agora é a (falsa) sensação de Autonomia do indivíduo4, e, nesse ínterim, também sua sensação de concorrência com os demais trabalhadores.

“O salário por peça tem, assim, uma tendência a aumentar os salários individuais acima do nível médio e, ao mesmo tempo, a abaixar esse nível” (MARX, p. 626)

e isso justamente devido à tendência “competitiva” de maior intensidade de produção dos indivíduos induzindo uma queda no preço (valor) por peça, portanto aumentando a quantidade média de peças produzidas por hora; com o aumento do nível médio, aumenta o tempo e/ou a intensidade de trabalho daqueles que produzem abaixo desta média, a qual é puxada justamente por aqueles que produzem acima deste nível. É neste sentido também (talvez principalmente) que Marx diz que ocorre a exploração do trabalhador pelo trabalhador.

Cálculo do salário por peça

“…o salário por peça é rebaixado na mesma proporção em que aumenta o número das peças produzidas durante o mesmo período de tempo ou, portanto, em que diminui o tempo de trabalho empregado na mesma peça” (MARX, p. 628-9)

Para o cálculo do salário por peça, precisamos fazer uns passos intermediários:
1: O tempo médio despendido por peça, , é dado por

onde é a Jornada de Trabalho e é a quantidade de peças/mercadorias5 produzidas (em condições normais) neste tempo.

2: Similarmente ao cálculo do Salário por Tempo, o valor médio produzido por tempo é dado por

“O preço médio do trabalho é obtido ao dividirmos o valor diário médio da força de trabalho pelo número de horas da jornada média de trabalho” (MARX, p. 614)

Ou seja, é o valor produzido, em média, durante a jornada de trabalho . Este é o preço médio a que cada mercadoria será vendida.

3: O salário por peça , como na fórmula do Salário por Tempo, é simplesmente multiplicar o preço médio pelo tempo de trabalho em que empregou-se a Força de Trabalho, seja ele . Temos então que

“Com a produtividade variável do trabalho, a mesma quantidade de produtos representa um tempo variável de trabalho. Portanto, varia também o salário por peça, já que este é a expressão do preço de um tempo determinado de trabalho.” (MARX, p. 629)


Referências

Footnotes

  1. Não só aumento de intensidade, mas mesmo aumento da própria jornada de trabalho esperada socialmente, a fim de indivíduos aumentarem o salário diário (mesmo apesar de leis trabalhistas). Cf. longa Estou Me Guardando Para Quando O Carnaval Chegar.

  2. Assumindo Princípio da Troca de Equivalentes.

  3. A forma-salário mistifica a relação de valor do trabalho assalariado.

  4. “O escravo romano estava preso por grilhões a seu proprietário; o assalariado o está por fios invisíveis. Sua aparência de independência é mantida pela mudança constante dos patrões individuais e pela fictio juris do contrato” (MARX, p. 648)

  5. Substitutos Perfeitos, a fins de argumentação.