up:: 063 MOC Economia Brasileira

Industrialização antes de 1930

Interpretações (Suzigan)

Debate anos 1960/1970

Teoria dos Choques Adversos: a indústria tem seu ímpeto com a própria crise (a ver sobre de onde vem a “capacidade ociosa” a que Furtado alude).

Industrialização liderada pela expansão das exportações: O café impulsionou a industrialização do país (interpretação abandonada ao longo do século XX). É o oposto da teoria dos choques adversos.

Teoria posterior

Capitalismo tardio[

Welp

Industrialização intencionalmente promovida por políticas do governo pré-1930 – não tão em pé de igualdade com as outras, embora seja cabível ponderar sobre o papel do governo (Vargas) na industrialização.

Teoria dos Choques Adversos

É uma resposta às dificuldades do Modelo Agroexportador: industrialização sendo uma resposta à dificuldade de Importações (Macroeconomia). “Choques adversos” são crises internacionais (que muito afetam países primário-exportadores), guerras, etc.

Há uma relação inversa entre café e indústria:

Dificilmente é explicitamente assumido por pesquisadores. Furtado e Tavares aceitam somente em parte para crise de 1930, não para antes (em geral) – se trata, em particular, no tocante à indústria de bens de consumo, e ainda não com um vigor comparável ao modelo primário-exportador.

Normalmente olham-se indicadores de produção da indústria.

Liderança das Exportações

Relação direta entre café e indústria, com uma indústria abrangente (não só bens de consumo).

Desempenho do café está correlacionado com desempenho da indústria. Quando há bom desempenho do café, há um mercado consumidor em expansão, traz possibilidade de importação – i.e. importação de capital necessário à produção doméstica –, e recursos a mais para investimento.

Há essa dependência do café, pois ele é o fio condutor entre a indústria doméstica e o capital estrangeiro.

Olha-se mais para volume de investimentos físicos da indústria. Promove-se, por exemplo, a criação de ferrovias.

Capitalismo Tardio

Versianni & Versianni: há momentos de desvalorização do café, nos quais há uma proteção dos recursos já existentes (induzindo produção), e momentos de valorização, nos quais há um aumento de Investimentos (Macroeconomia).

Logo, há momentos de ampliação da capacidade produtiva, e momentos de ampliação da produção em si, correlacionados com os ciclos econômicos do café.

Década de 60 (FHC, J. S. Martins): condições sociais da industrialização são divisão do trabalho e urbanização, mercado consumidor, e, obviamente, Trabalho Assalariado.

Década de 70 (JMC Mello, S Silva): pré-condições de formação do capitalismo: mercado de trabalho, formação da burguesia, origem do capital.

Visão da Unicamp do capitalismo tardio: abolição da escravidão e trabalho assalariado instauram a emergência do novo modo de produção capitalista no Brasil

Distinções de desenvolvimentos capitalistas

Capitalismo originário: caso da Inglaterra, formações originais do modo de produção capitalista (e que induziram ao resto do mundo…).

Capitalismo tardio: país teve passado colonial e desenvolve modo de produção capitalista durante fase monopolista do capitalismo mundial (i.e. necessariamente vem depois do capitalismo originário, por isso “tardio”).

Capitalismo atrasado: país teve passado feudal e desenvolve modo de produção capitalista durante fase concorrencial do capitalismo mundial (e.g. países europeus).

Brasil e capitalismo tardio

É claro que o desenvolvimento industrial depende da acumulação de capital advinda de seu Modelo Agroexportador. Embora sua produção dependa da demanda externa, o beneficiamento e a infraestrutura ao seu redor estimulam acumulação de capital.

Logo, o capital industrial é uma extensão do capital cafeeiro, e toma forma num processo de diversificação do complexo exportador cafeeiro (ou grande capital cafeeiro), que em geral ocorre em momentos expansivos das exportações. Ou seja, é um fruto que surgiu domesticamente, por mais que tenha tido ímpetos e investimentos externos aqui e ali.

Tal relação, porém, é contraditória, pois a produção do café impõe limites à autonomização da indústria1, limites de política econômica mesmo (políticas café-com-leite), assim como o alcance possível de desenvolvimento da indústria – em particular bens de consumo, geralmente duráveis (móveis, etc).

Com a Crise de 1929, há um processo de autonomização do capital industrial com relação ao complexo cafeeiro, ganhando mais autonomia doméstica.

Pontos consensuais e características da industrialização

Indústria tem origem no Império: tecidos (RJ, MG, BA), cerveja, fundições. A restrição de desenvolvimento se devia à escravidão, à falta de circulação de dinheiro domesticamente.

O desenvolvimento industrial tem suas condições necessárias na expansão cafeeira: o trabalho assalariado (e imigrante), a expansão do capital e diversificação de investimentos2, a expansão do mercado devido ao assalariamento.

As origens do capital industrial vêm do cafeicultor e dos imigrantes/importadores. Há baixa influência de capital estrangeiro nisso antes de 1920 (em particular pelas restrições internacionais pelo Funding Loan (1898)).

O governo não adotou uma medida anti-industrializante, mas também não eram deliberados no processo. Há desenvolvimentos a favor da indústria, claro, como criação de Ferrovias de Ferro e siderurgias.

Oscilações cambiais têm efeito ambíguo na industrialização doméstica: ao passo que uma Desvalorização Cambial encarece Importações (Macroeconomia) e, portanto, desfavorece concorrência externa (portanto, induzindo a utilização da capacidade produtiva doméstica), ela também encarece bens de capital, portanto podendo ser detrimental à produção. No grosso, desvalorizações cambiais tendiam mais a ser desfavoráveis à industrialização, tendo em vista o custo do capital importado necessário. Vice-versa para Apreciação Cambial.

As oscilações apreciação-desvalorização do câmbio no início da República não foram propositais ao desenvolvimento da indústria (claro), mas contribuíram ele: momento de apreciação é momento de investimento em bens de capital, e momento de depreciação é momento de aproveitamento das capacidade produtivas com os bens previamente adquiridos, e por aí vai, subrepticiamente à produção cafeeira.

Políticas tarifárias eram altas: acabavam protegendo comércio doméstico, mas dificultavam improtação de bens de capital – problema de não-seletividade das tarifas (arrecadação fiscal), até década de 1920.

Incentivos e subsídios creditícios: até 1GM, há crédito e incentivos ad hoc à indústria (usinas de açúcar), não era nada deliberado. Década de 1920 há incentivos mais sistemáticos à diversificação – não necessariamente exclusivo à indústria, mas também da própria agricultura, produção de trigo (que teve escassez durante Guerra) etc; preocupações com economia vulnerável.

Localização: Rio de Janeiro até IGM, depois São Paulo (Café, também questão de salários e imigrantes, comunidades).

Desenvolvimento de indústrias de bens de consumo: têxtil, sapato, alimentos. Eram limitadas até 1920, passaram a ganhar um ímpeto estatal: papel/celulose, óleos, fios, siderurgia.

Populismo no Brasil (1930-1964)

Deslocamento do Centro Dinâmico (Furtado): endogenização das fontes de dinamismo da economia brasileira. Exportações (Macroeconomia) continuam importantes, mas agora há uma transformação estrutural da sociedade, com urbanização e Industrialização por Substituição das Importações & Estado desenvolvimentista.

O governador do Estado possui o poder, e delega-o provincialmente aos coroneis regionais; em troca, os coroneis induzem os votos de cabresto a favor do governador do Estado, na República Velha. Isso muda com Vargas: Politicamente há uma urbanização da hegemonia, uma prioridade das massas urbanas.

Populismo

Populismo: relação líder-massas. Líderes personalistas, carismáticos, manipulação por demagogia.

A presença de massas urbanas são úteis, pois são um amálgama social que tem dificuldades de articulação de reivindicações próprias e de representar-se autonomamente. São mais atraídos por uma figura que os represente univocamente.

Wefford: confusão com bonapartismo. Ascensão do poder num vácuo hegemônico (confusão entre as várias classes etc), com construção de hegemonia com base em setores urbanos, promovendo industrialização.

1930-1945 – Populismo Autoritário, Vargas

Revolução de 1930

Movimento político-militar que derruba Washington Luís e previne posse de Júlio Prestes. Tem como efeito derrubar a hegemonia da oligarquia cafeeira.

É conduzida por grupo heterogêneo com diferentes interesses entre si, às vezes contraditórios. Portanto, não há uma confluência de interesses suficiente para professar nacionalmente; uma espécie de vácuo de poder.

Getúlio Vargas obtém apoios políticos e compromissos entre vários grupos. Assume posição de “árbitro” entre as partes.

Integração das massas urbanas: apoio e lealdade aos trabalhadores, sindicatos pelegos, etc. Concessões de direitos trabalhistas, direitos sociais. Porém, impede expressão e mobilizações autônomas.

Compromissos básicos do governo eram:

  • não alterar situação política e fundiária do país
  • trazer massas urbanas à base de sustentação do governo, sem radicalizá-las
    • Os custos para apaziguar os trabalhadores não são detrimentais ao desenvolvimento da indústria

Instabilidades e conflitos permanentes no populismo

Oligarquias agrário-mercantis vs setores urbano-industriais: embora não tenha havido alterações trabalhistas no campo, as alterações drásticas nas cidades induziram um êxodo rural. Portanto, há um litígio com as oligarquias agrárias, que prefeririam não haver tal intervencionismo.

Amadurecimento das classes operárias: quando há desenvolvimento e possível surgimento de organizações trabalhistas paralelas ao poder estatal.

Processo de Substituição de Importações

É um processo de desenvolvimento

  • parcial/por etapas: o objetivo final é uma industrialização completa, mas ela deve dar-se por partes. O crescimento tem que dar-se compativelmente, senão poderá haver alguma Inflação dos preços dos bens devido a bottlenecks de custos. Requer planejamento do governo (matriz insumo-produto), para permitir um crescimento sustentado.
    • Bens de consumo não-duráveis (têxteis, calçados, alimentos)
    • Bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis)
    • Bens intermediários (ferro, aço, cimento, químicos)
    • Bens de capital (máquinas e equipamentos)
  • fechado: voltado pra dentro, para atendimento do mercado interno3; depende de medidas protecionistas (diminuição de concorrência externa);
  • responde a choques adversos externos: mediante um choque adverso (escassez de divisas), governo tenta controlar a crise para diminuir Importações (Macroeconomia) e manter Balanço de Pagamentos, para proteger indústria nacional; dessa forma, gera-se uma onda de Investimentos (Macroeconomia), aumentando Renda Agregada e também Demanda Agregada; com isso, cria um novo estrangulamento externo, por conta do aumento da demanda (e o ciclo recomeça)
    • Ou seja, vai caminhando de desequilíbrio externo a desequilíbrio externo, desequilíbrios parciais (substituindo algumas importações, não todas), até certo limite geográfico/capital/tecnológico
    • Acaba induzindo um “confisco cambial” da renda do setor primário-exportador para o setor industrial, desestimulava exportações agrícolas
      que procurou repetir a experiência de industrialização de países desenvolvidos.

1945-1964 – Populismo Democrático

1945-1955 – Industrialização restringida (João Manuel Cardoso de Mello)

1955-1960 – Industrialização pesada


References

Footnotes

  1. É algo análogo às relações opositivas dentro do complexo agroindustrial/agronegócio. O agronegócio não é só sobre produção.

  2. Em particular quanto à Vantagem Comparada de atender a nova Demanda Agregada doméstica, devido ao assalariamento da população.

  3. Portanto, depende do tamanho do mercado interno, diversificação de renda. Crise de 1960 advém disso, p. ex. indústria automobilística e indústria de capital de bens (com 4 empresas de autos somente).