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“…o sucesso subjetivo está impossibilitado de ter consequência moral ou emocional para o sujeito que, afinal, para alcançar o sucesso, precisa drenar a importância intrínseca de sua vida moral e emocional. Não se pode dizer do sujeito baconiano que ele alcança o sucesso para sentir-se bem, porque os sentimentos foram transformados em ferramentas para o sucesso; tampouco alcança o sucesso para compartilhá-lo com sua família e amigos, que sofreram a mesma transformação. A situação lógica do sujeito baconiano é tal que, se ele converteu em meios eficazes os principais aspectos de sua vida, acaba dotando a centralidade dos meios de importância teleológica: se a finalidade da vida é se dar bem, a eficiência torna-se um fim em si mesma. Os valores, comportamentos e afecções são úteis de modo a serem úteis, funcionam de modo a funcionarem, o sujeito se instrumentaliza de modo a instrumentalizar-se.

Em outras palavras, o movimento geral dos ensaios só é totalmente entendido quando a funcionalização das atividades humanas é entendida não apenas como o modo de ação, mas como finalidade da ação.” (de Oliveira, p. 71)

“Desse modo, as ações eficazes que (…) aparecem como meios para o sucesso constituem, também, resultado do sucesso. O sucesso resulta de um cálculo total que se espraia por todas as dimensões da vida e é, em última análise, idêntico à própria eficiência que produziu o sucesso, sinônimo dela. O sujeito desempenha atividades de maneira eficiente para ter sucesso; obtém sucesso quando desempenha atividades de maneira eficiente; usa o seu sucesso de maneira eficiente para obter mais sucesso, desempenhando atividades. O sucesso e a eficiência não são mais do que dois nomes para a mesma coisa colocada em relação consigo mesma: trata-se da submissão da vida ao critério da calculabilidade, ao emprego das ferramentas geradoras de eficiência e da transformação do emprego das ferramentas em finalidade da vida.” (de Oliveira, p. 72; grifo meu)

O resumo da ópera:

“Qualquer capitalista sabe que, para não falir, a finalidade fundamental do empreendimento deve ser o reinvestimento – em essência, a finalidade do empreedimento é o empreendimento.” (de Oliveira, p. 73)

Há uma óbvia relação com a noção de que Capital só é capital quando é gerador de Mais-valor.

Há uma relação clara com Formas de objetividade e de subjetividade capitalistas (Monografia Lukács), com a noção de que noções subjetivas sejam também “integradas em sistemas especiais e racionais e reconduzidas ao conceito calculador” (Lukács, p. 202).


Referências

  • DE OLIVEIRA, Pedro Rocha. Discurso filosófico da acumulação primitiva: estudo sobre as origens do pensamento moderno. Editora Elefante, 2024.
  • Lukács, G. “A reificação e a consciência do proletariado”. In: História e Consciência de Classe. Martins Fontes, 2003.