“…a mais simples enumeração de ‘fatos’, a justaposição mais despojada de comentário já é uma ‘interpretação’, (…) nesse nível os fatos já foram apreendidos a partir de uma teoria, de um método, (…) eles são abstraídos do contexto da vida no qual se encontravam originariamente e introduzidos no contexto de uma teoria.” (Lukács, p. 71)

Não importa o quão “despojada de comentário” seja um colhimento de dados, tal ato sempre possuirá alguma teoria ou método implícito.

Isso se dá devido à relação dialética sujeito-objeto: não existem facti bruti, aos quais incutimos significado; o fato de serem “dados”, de serem ob-jetos para nós, já implica em que foram apreendidos por alguma teoria nossa, i.e. de que foram abstraídos de seu contexto original a fim de serem considerados “sob uma nova ótica”.

23/07/2022: A realidade simplesmente é; ela não é palavras, ela não é números, portanto a atribuição destes para a qualificação da natureza já é algo que traz implícito um desenvolvimento histórico-filosófico e um aparato metodológico de apreensão da realidade (os gregos faziam-no de maneira distinta que os cientistas pós-revolução cartesiana passaram a fazer).

22/05/2024: A Ciência é uma representação da realidade através de categorias humanamente pertinentes.

O capitalismo induz a ilusão da cisão científica sujeito-objeto (no estudo da sociedade)

O método científico, no qual a natureza é abstraída a números e conceitos abstraídos e separados da realidade, é próprio da forma de objetividade capitalista, da atomização e independentização das esferas sociais. De fato, a divisão do trabalho cada vez mais desenvolvida cria segmentos “isolados” da sociedade que “parecem perfeitos” para estudos científicos, parecendo algo trivial elevar a observância desses segmentos da sociedade, e de suas “leis” parciais (como aparecem à consciência reificada), a uma ciência formal.


Referências

  • Lukács, G. O que é marxismo ortodoxo?. In: História e Consciência de Classe. Martins Fontes, 2003.