202207301712 Sobre o papel do “desencanto das subjetividades” no capitalismo

Não me parece que seja a motivação primeira do capitalismo frente à subjetividade humana ─afinal, seu objetivo final é a obtenção do mais-valor─, mas penso que uma “consequência útil” do capitalismo é a do desencanto das subjetividades: similar à noção de “Realismo Capitalista”, em que “é mais simples ver o fim do mundo que o fim do capitalismo” ─ou seja, em particular a destruição do meio ambiente que vem junto ao avanço capitalista é visto como algo inexorável─, advém uma sensação de “desencanto” (disenchantment) pelo meio ambiente que nos circunda, em particular nas cidades. Os rios são sujos e fétidos; as gramas altas são vistas como desleixo. A natureza urbana é vista como um aspecto incriminador da humanidade1, e, portanto, torna-se uma sore view.

Digo que é uma “consequência útil” porque acaba retroalimentando a sensação de desencanto: é desmoralizante ver, todos os dias, os monumentos de sua derrota; de ver que, não obstante os ideais que se tenha bajo capitalismo ─sejam eles antagonismo ao sistema ou pura tristeza pela destruição da fauna e flora─, os rios ainda estão poluídos, as matas estão queimadas e/ou desmatadas, os morros possuem extratores, e por assim vai.

E quem dirá, por isso, que tais “monumentos de barbárie ambiental” não são algo que possa ser ensejado pelo sistema? Não só pela sensação de derrotismo, mas também pela sensação de uma vida diferente daquela que sustenta o capital: talvez seja um custo muito alto permitir que trabalhadores tenham um contato saudável com a natureza, de forma que comecem a ansiar por realidades de vida diferentes das que se colocam como férreas e eternas, da vida sempre apressada e sempre sem tempo para o essencial, do “there is no alternative” neoliberal.

Footnotes

  1. Como se fosse a humanidade inteira responsável pela destruição dos ecossistemas…