Nome: Nicholas Funari Voltani
Nº USP: 9359365
Ficha de estrutura expositiva: Nível detalhado
Texto: WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo, 2016. Cap. 2: Discussão sobre a opinião prevalecente a respeito do caráter sexual.
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Primeira parte: Formas como a mulher é inferiorizada na sociedade (§§1-6)
- §1 ─ A autora questiona sobre a suposta impossibilidade de que mulher possam alcançar a virtude
- §2 ─ Explicação de tal discrepância devido à “ignorância” da mulher
- §§3-5 ─ A autora discute sobre a infantilização das mulheres por parte dos homens como uma estratégia para mantê-las dependentes
Segunda parte: Como A educação individual permite que a mulher alcance a virtude através do exercício da razão (Wollstonecraft) (§§8-11)
- A autora define a noção de “Educação Individual (Wollstonecraft)” como a formação da criança com relação à sua relação com suas paixões e ao desenvolvimento de sua capacidade de raciocínio (“entendimento”) ─ inclusive, esta passagem e todo o capítulo herdam da noção do Iluminismo, o qual Kant define como a forma pela qual o indivíduo escapa da “minoridade” (“a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem”, cf. “O que é o Iluminismo?“)
Terceira parte: Causas da escravização da mulher pela sociedade (§§14-27)
- §§14-15 ─ A “educação desordenada” concedida às mulheres torna-as incapazes de ver a lógica nas coisas (sua “ordem”), tornando-as mais suscetíveis de serem dependentes de suas ações passadas (“Assim, elas fazem hoje o que fizeram ontem, meramente porque o fizeram ontem”) ─ A ausência da educação individual da mulher a torna psicologicamente dependente do homem (Wollstonecraft)
- §16 ─ A autora alude ao papel importante da formação das crianças no ensino do exercício da razão: o caráter mais “imediatista” do pensamento da mulher é, então, consequência da ausência dessa formação, o que torna seu pensamento mais “volúvel” que o do homem, que, em geral, não teve tal formação deficitária, e pode valer-se da “especulação” da razão para a generalização de sua visão de mundo
- §§17-20 ─ Comparação de mulheres com homens militares
- A autora argumenta como soldados também vêm o mundo de maneira superficial e irrefletida ─ tal qual mulheres sem formação adequada
- É feita uma analogia implícita entre o caráter dos soldados de exércitos permanentes e a relação das mulheres na sociedade, onde ambos “foram ensinados a agradar e vivem apenas para isso”
- Conclui-se que, por seu entendimento superficial e acrítico das coisas, ambos acabam tornando-se “presas fáceis dos preconceitos” e acabam por ceder facilmente aos argumentos de autoridades
- §21 ─ A autora elabora, a partir da ideia de que “o poder busca a obediência cega”, que tal posição de acriticidade da mulher é conveniente à dominação do homem
- §§22-27 ─ Sobre os argumentos de manutenção da dominação da mulher pelo homem
- A autora critica a posição de Rousseau quanto à manutenção da mulher em “seu lugar” de mero objeto de desejo e de satisfação do homem
- A autora critica a longínqua anedota de Adão e Eva, sob a qual poderia-se argumentar que “a mulher deveria ter seu pescoço sob jugo, porque toda a criação [divina] foi feita apenas para a conveniência e o prazer do homem”
Quarta parte: Virtudes femininas têm mesmo caráter qualitativo que as virtudes masculinas (§§28-31)
- A autora argumenta que, como todas as virtudes advêm igualmente da Providência, então as virtudes femininas têm mesmo aspecto qualitativo que as virtudes masculinas
- Ou seja, se homens possuem mais virtude que mulheres, então o têm somente no tocante ao aspecto quantitativo ─ cabe, então, entender se tal discrepância é natural ou arbitrariamente imposta
Quinta parte: Crítica a “A Father’s Legacy to His Daughters”, de John Gregory (§§36-54)
- §§36-38 ─ A autora critica o conselho do autor às suas filhas quanto ao cultivo de modos fúteis e antinaturais, de dissimulação ou repressão de seus sentimentos
- §§39-41 ─ A autora aborda sobre a diferença entre mulheres dependentes e mulheres racionais em um casamento: as primeiras subordinam-se a seus maridos, tornando-se dependentes de seu afeto e sua aprovação; as últimas, por não verem a utilidade da dissimulação de seus sentimentos a fim da mera satisfação de seus maridos, prezam por uma relação genuína, de amizade ─ ou de “indiferença”, caso não seja possível uma relação saudável
- §§42-49 ─ A autora argumenta sobre o amor ser necessariamente um sentimento transitório: “Amizade ou indiferença inevitavelmente sucedem ao amor”. Disso se compreende sua tese de que a fixação na ideia de paixão/amor pela sociedade é algo “inútil, ou até pernicios[o]”, posto que é um apego a um estado essencialmente irracional, longe da homeostase emocional da virtude, mantida pelo controle dos instintos através do exercício da razão: “Deixemos que o coração honesto se manifeste e que a razão ensine a paixão a submeter-se à necessidade; ou que a busca digna da virtude e do conhecimento eleve a mente acima dessas emoções, que mais amargam do que adoçam o cálice da vida quando não são restritas aos devidos limites”
- §§50-54 ─ A autora discute sobre os interesses e gostos da mulher enquanto em um matrimônio, e de como eles são dependentes de sua relação com seu marido: caso não tenha uma “mente bem formada”, sua vida gira em torno da satisfação dos interesses de seu marido; caso tenha tido uma educação apropriada (e, portanto, não seja psicologicamente dependente da imposição conjugal), “o caráter [do cônjuge] pode ser uma provação, mas não um impedimento para a virtude”, não tendo seu valor próprio restrito à satisfação das vontades do homem
Sexta parte: Sobre as consequências naturais referentes à capacidade da razão pela mulher (§§56-68)
- §§56-58 ─ A autora critica os “elogios” contraditórios relacionados à mulher (“belos defeitos, debilidade amável etc.”) como a imposição de uma imagem arbitrária de inferioridade às mulheres
- §§59-61 ─ A autora elabora a ideia (já aludida previamente) de que a posição “inferior” da mulher possui, no mínimo, uma influência direta do homem, e insiste que, removido esse rebaixamento arbitrário imposto à mulher, somente então poderia-se aferir se há realmente alguma inferioridade natural entre os sexos (e, portanto, se há ou não alguma justificativa natural para sua submissão ao homem)
- §§64-68 ─ A autora reitera que as mulheres estariam “sujeitas à inquebrantável cadeia [chain] do destino” caso fosse provado que elas “não devem jamais usar a própria razão”; porém, caso seja verdade que elas sejam “realmente capazes de agir como criaturas racionais”, então que sua busca pela virtude seja absolutamente desimpedida