up:: Capital-Dinheiro

“A forma do tesouro não é mais do que a forma do dinheiro que não se encontra em circulação, do dinheiro que teve sua circulação interrompida e, por isso, é guardado em sua forma-dinheiro. (…) Porém, o tesouro aparece como forma do capital monetário[,] e o entesouramento, como processo que acompanha transitoriamente a acumulação do capital, porquanto e na medida em que o dinheiro figura como capital [dinheiro] latente; porquanto o entesouramento, o estado de tesouro do mais-valor existente em forma-dinheiro, é um estágio preparatório — funcionalmente determinado e externo ao ciclo do capital — para a transformação do mais-valor em capital efetivamente operante. Por meio dessa sua determinação, o tesouro é, pois, capital [dinheiro] latente, razão pela qual também o volume que ele tem de alcançar para poder entrar no processo é determinado pela composição de valor que o capital produtivo apresenta em cada caso. Enquanto permanece em estado de tesouro, contudo, ele não funciona como capital [dinheiro], mas ainda é capital [dinheiro] imóvel; não capital [dinheiro] interrompido em sua função, como antes, mas como capital [dinheiro] ainda não apto ao exercício de sua função.” (MARX, p. 162-3)

“O fundo de acumulação de dinheiro é já a existência [Dasein] de capital [dinheiro] latente; portanto, a transformação de dinheiro em capital [dinheiro].” (MARX, p. 164)

Como a Reprodução Ampliada do Capital depende da Composição Orgânica do Capital, i.e. da proporção necessária de variação de Capital Variável para dada variação de Capital Constante, e de como tais variações nem sempre são contínuas, mas discretas, faz-se necessário que hajam ampliações de produção espaçadas entre si, entre as quais acumula-se o “capital” (recursos/Dinheiro) necessário para, de fato, ampliar a produção (e, portanto, a magnitude deste Capital Industrial).

A acumulação de dinheiro necessária para tais ampliações são chamadas de capital dinheiro latente1, in potentia. Também é chamado de fundo de acumulação.

Enquanto está neste estado “liminar”2, pode assumir uma função mais ativa: agir como Fundo de Reserva para estabilização do Capital-Dinheiro efetivamente in motu, ressarcindo suas possíveis defasagens por motivos exógenos a seu ciclo ininterrupto.


Referências

  • MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Livro 2: O processo de circulação do capital. Boitempo Editorial, 2014.

Footnotes

  1. Ou potencial, segundo Engels, cf. MARX, p. 157, nota de rodapé 6a — em relação à qual eu não seria tão brusco. O termo “latente” possui um sentido de “potentia” também no sentido comum de sua semântica, não sendo estritamente necessário remetê-lo ao conceito de calor latente para conseguir imaginá-lo do jeito que Marx (provavelmente) pretendia. Inclusive, para mim, tentar relacioná-lo com o conceito físico de calor latente (como eu o conheço, p. ex. mudanças de fase da água) mais complica do que explica este conceito do capital.

  2. Em inglês, liminal: intermediário, transitório.