up:: O sujeito baconiano busca ser eficiente em nome da própria eficiência
“O processo material de submissão da vida à economia exige do sujeito moderno um comportamento materialmente calculista, e a filosofia baconiana se encarrega de dotar esse comportamento de consciência, tornando-o transparente para o sujeito moderno. Assim, no caso, a relação da filosofia com a ideologia moderna é uma relação de iluminação, de esclarecimento. Por outro lado, tal esclarecimento não trabalha a favor da crítica aos pressupostos econômicos da reflexão filosófica: pelo contrário, pretende quase sempre contribuir para o exercício eficaz do cálculo.” (de Oliveira, p. 89)
De maneira irônica, assim como a filosofia escolástica submetia a razão à fé religiosa – empregando-a tão somente de maneira utilitária a suas temáticas –, a filosofia moderna submete a razão à fé na eficiência econômica, colocando-a sob o serviço da maior obtenção de eficiência1.
Nas sociedades de capitalismo tardio, tal submissão é levada a extremos. A filosofia torna-se um instrumento rudimentar e ínfimo, como vemos em toda o revival do estoicismo nos meios de empreendedorismo e autoajuda. No fim das contas, não é (somente) uma filosofia de vida: tornam-se ditames para viver melhor uma vida capitalista.
“Da mesma forma, o sábio não é considerado indigno ao ser agraciado pelo dom da fortuna. Não ama a riqueza, mas a aceita de bom grado. Permite que entre em sua casa, não a rejeita, desde que ela enseje oportunidades para a virtude2.” (SÊNECA, p. 124)
Referências
- DE OLIVEIRA, Pedro Rocha. Discurso filosófico da acumulação primitiva: estudo sobre as origens do pensamento moderno. Editora Elefante, 2024.
- SÊNECA, Lucius Annaeus et al. Da felicidade. In: Da tranquilidade da alma. Porto Alegre: L&PM, 2009.
Footnotes
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E isso, no contexto capitalista, acaba traduzindo-se numa maior extração de Mais-Valor Relativo. ↩
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“Virtude” é uma palavra tão dúbia que é facilmente cooptável nos dias de hoje. ↩