202205150958 - Sobre reconhecer que somos dominados pela nossa mente

”Estamos tão identificados com [nossa mente] que nem percebemos que somos seus escravos. É quase como se algo nos dominasse sem termos consciência disso e passássemos a viver como se fôssemos a entidade dominadora. A liberdade começa quando percebemos que não somos a entidade dominadora, o pensador. Saber disso nos permite observar a entidade. No momento em que começamos a observar o pensador, ativamos um nível mais alto de consciência. Começamos a perceber, então, que existe uma vasta área de inteligência além do pensamento, e que este é apenas um aspecto diminuto da inteligência.” (p. 15)

Parece algo derrotista de admitir que não sou o ser pensante, ativo, mas quem sabe não seja um ato de Aufhebung: há uma entidade que compõe a totalidade de nossa consciência que está exercendo dominância (ou seja, se opondo) sobre as outras áreas. Não é questão de suprimir essa área da consciência, de apagá-la totalmente, e sim de reconciliá-la com as outras; de superar tal contradição e de harmonizá-la com as outras, colocando-a em seu lugar e empregá-la como ela deveria ser empregada (não de maneira compulsiva).

Sobre “observar o pensador"

"Comece a prestar atenção ao que a voz [do pensamento] diz, principalmente a padrões repetitivos de pensamento, aquelas velhas trilhas sonoras que você escuta dentro da sua cabeça há anos (…) ouça a voz dentro da sua cabeça, esteja lá presente, como uma testemunha.
Seja imparcial ao ouvir a voz, não julgue nada. Não julgue ou condene o que você ouve, porque fazer isso significaria que a mesma voz acabou de voltar pela porta dos fundos. Você logo perceberá: está a voz e aqui estou eu, ouvindo-a e observando-a. Sentir a própria presença não é um pensamento, é algo que surge além da mente.” (p. 16)

Esse ato de “observar o pensador” é uma forma de limitá-lo, similar ao sentido de Hegel em que o infinito que é limitado pelo finito não é um “infinito de verdade” (ele chama-o de “mau infinito”). Suponho que seja, de fato, seu limite, posto que é uma área limitada da consciência: esse é o ponto!


Referências

  • O Poder do Agora, Eckhart Tolle, Ed. Sextante.