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Às ordens, capital

Sob a ordem capitalista atual, a palavra de ordem é: “trabalhe”. O trabalho, não mais um ofício ou profissão como outrora, tornou-se atomizado e imprescindível à sobrevivência ─ leia-se, ao pagamento das contas mensais. O tempo livre, antes usado para um descanso necessário, tornou-se areia pela qual seu tempo de trabalho percola e preenche a todos os poros ─ nem mesmo dentro de casa pode-se estar apartado do ambiente de trabalho.

Porém, essa é a realidade de somente uma parcela da população: daquela que conseguiu arranjar algum trabalho, para começo de conversa. E isso quando é algum trabalho com carteira assinada, e não os famosos “bicos”. O desespero pela sobrevivência ganha a mesma alcunha pela sede ao pote: “empreendedorismo”. Ainda assim, olvidam-se todos os outros cidadãos invisibilizados: donas de casa, estudantes, artistas, e outros que a duras penas são chamados plenamente de “trabalhadores”.

Isso tudo sem prestar atenção, ainda, àqueles que são prejudicados pelo “business as usual”: indígenas desde a Belo Monte no Xingu até o projeto da Ferroeste em Paranaguá e outros locais afetados; trabalhadores em regime análogo à escravidão em plantações de maçã e uva em Vacaria; a destruição do cenário cotidiano da Serra do Curral, em Belo Horizonte; populações reféns de megamineradoras, madeireiras, ruralistas e outros braços do capital que prometem galardões demais e que cumprem de menos.

Por fim, àqueles que denunciam este “sistema de moer gente”, restam duas opções: o degredo voluntário ou a resignação forçada. Impõem-se tais termos com o pretexto de não emperrar as “engrenagens” do sistema; tal sistema que, afinal, pareceu comprazer-se com o sacrifício feito de mais de 700 mil vidas em nome dos bons negócios, megasafras e lucros recordes. Chega-se à conclusão que tudo está, sim, dentro da ordem, mas fica subentendido que tal ordem não está a favor do homem “mundano”, e sim do deus Capital, cuja face estampa todas as cédulas através das quais vai-se a Seu reino e faz-se a Sua vontade. Para o Capital, tudo está em ordem; para nós, restam as ordens de voltar ao trabalho.