O Capital, I ─ Cap 13, Maquinaria e Grande Indústria

Objetivos da aula

  • Compreender o conceito de maquinaria
  • Compreender seus efeitos na produtividade do trabalho (logo, sobre a produção de mais-valor relativo)
  • Foco na Parte 3 do capítulo: aspectos conceituais que elucidam o efeito da maquinaria sobre a força de trabalho (logo, sobre a produção de mais-valor pela via relativa)

Finalidade (original) da maquinaria

  • Não é aliviar a carga de trabalho sobre os ombros do trabalhador (no sistema capitalista)
  • E sim baratear mercadorias por encurtar seu tempo de trabalho necessário (E aumentando o tempo de trabalho excedente)
  • Logo, a maquinaria é meio de produção de mais-valor

Revolução no modo de produzir

Revolução é no sentido de uma nova forma de trabalho se espraiar pela sociedade.

  • Manufatura: tal revolução se deu a partir do trabalho (da organização do trabalho): através da cooperação e da divisão do trabalho
  • Grande indústria: tal revolução se dá a partir do meio de trabalho; no caso, através da maquinaria
  • Logo, o aumento da produtividade advindo pela maquinaria tem custo expresso pelo capital fixo, o qual é recuperado no valor da mercadoria através de sua depreciação (no caso da manufatura, não há um custo ao capital).

Partes da maquinaria

  • Máquina-motriz: fonte de força (ou energia)
    • Produz sua própria força (energia): a vapor, calórica (?), eletromagnética
    • Recebe impulso externo: roda d’água, moinho de vento, combustível
  • Mecanismo de transmissão (do movimento/da força-motriz):
    • Conjuntos de roldanas, correias
  • Máquina-ferramenta: mecanismo ao qual se acopla um grande número de ferramentas (antes nas mãos de trabalhadores), para se apoderar do objeto de trabalho e modificá-lo de acordo com sua finalidade
    • Seu surgimento se deve à simplificação das tarefas oriundo da expansão da divisão do trabalho (ao ponto de poder ser automatizado por máquinas inconscientes)

As duas formas de maquinaria

  1. Cooperação de muitas máquinas de uma mesma espécie: as máquinas realizam todas as operações dos trabalhadores de outrora; consolidam a passagem da manufatura para a grande indústria.
    • Exemplos: tear mecânico (substitui o tear manual); máquina de fazer envelopes (dobrador do papel, colador, dobrador de abas, etc)
    • Note-se a subordinação do trabalho ao capital: o papel do trabalho no processo de produção passa a ser um acessório das máquinas
  2. Sistema [complexo] de máquinas: um ensemble de conjuntos qualitativamente (no tocante ao trabalho útil dispendido) distintos de máquinas; uma espécie de “divisão do trabalho entre máquinas”.
    • É mais visível na automação industrial
    • Com a produção de máquinas através de outras máquinas (indústria de base), o capital se torna tecnicamente independente da força de trabalho

”o capital começa a caminhar com seus próprios pés”

Item 3: Efeitos da produção mecanizada sobre a força de trabalho e sobre a produção de mais-valor relativo

a) Apropriação de forças de trabalho suplementares pelo capital

A maquinaria torna a força muscular dispensável; logo, permite a utilização da força de trabalho não-muscular (feminino/infantil) (Altamente relevante ao trabalho reprodutivo!)

Como o valor da força de trabalho depende não só do tempo de trabalho necessário para a manutenção do trabalhador individual, mas para a manutenção de sua família, o que muda com a introdução da maquinaria?

Ao lançar toda a família de um trabalhador no mercado de trabalho, acaba por repartir o valor da força de trabalho do homem por toda sua família^[Professora disse que tem mais a ver com a diminuição do salário efetivamente pago do que com o valor da força de trabalho.] desvaloriza o valor da força de trabalho devido ao aumento da concorrência.

Exemplo do professor Claus Germer: note-se que o Tempo de Trabalho Socialmente Necessário é repartido entre os membros, enquanto todo o restante da jornada conjunta de trabalho é apropriado como Tempo Excedente de Trabalho! Isso se dá pois, pela grande oferta de força de trabalho (e não-tão-grande demanda pelo capitalista), os salários dos trabalhadores se conformam pelas lutas por direitos trabalhistas ().

b) Prolongamento da jornada de trabalho

No sentido da teoria de valor, como a presença de máquinas induz uma redução da quantidade de trabalhadores no ambiente de trabalho, aqueles que permanecem possuem sua jornada de trabalho aumentada: como a redução da massa de trabalhadores reduz a massa de mais-valor produzido, há de haver uma compensação na taxa de mais-valor extraído dos trabalhadores restantes. No sentido técnico, a utilização da maquinaria impõe uma necessidade de prolongamento da jornada de trabalho, pois:

  • Retorno do capital fixo: quanto mais tempo a máquina é utilizada (empregada por mãos humanas), tanto mais rápido ela retornará o investimento inicial
  • Desgaste moral do capital fixo: é necessário utilizá-la ao máximo para que não haja “tempo obsoleto” de uso
  • Logo, quanto maior for a jornada de trabalho, tanto menor será o custo relativo do capital fixo (por deixar tais máquinas inoperantes)

As leis trabalhistas surgiram desse conflito entre capital e trabalho.

c) Intensificação do trabalho

  • Surge como reação do capital ante à redução da jornada legal de trabalho
  • A maquinaria impõe o ritmo de trabalho; ao trabalhador resta ajustar-se a esse ritmo, intensificando seu trabalho (exemplo do filme Tempos modernos, em que o capitalista acelera/diminui a velocidade da esteira mecânica, induzindo a produtividade dos trabalhadores sequenciais)
  • Uma jornada menor, mas mais intensa, produz mais valor e, portanto, equivale a uma jornada maior, mas com dispêndio normal de força de trabalho.
    • Logo, o prolongamento da jornada com intensidade aumentada geram mais-valor pela via absoluta
    • Porém, a generalização da jornada menor mas mais intensa & com introdução de máquinas, ao afetar as indústrias de subsistência da força de trabalho, geram mais-valor pela via relativa

Subsunção do trabalho ao capital

  • Subsunção/Subordinação Formal (manufatura): o processo de trabalho se torna processo de valorização, mas sem modificações essenciais na forma real de produzir (pois incorpora apenas a cooperação e a divisão do trabalho).
    • Está fundada predominantemente no mais-valor absoluto, e começa a dar a luz ao mais-valor relativo.
  • Subsunção/Subordinação Real (grande indústria): o processo de trabalho, que já se tornara processo de valorização, sofre uma modificação radical no modo de produzir, com a introdução da máquina: a produtividade particular do trabalhador não é mais relevante ao processo de produção; o que importa é como a máquina o produz, e o trabalhador se torna mero maquinista.
    • Está fundada predominantemente no mais-valor relativo^[Relembrando a distinção entre mais-valor extra, o qual traz mais-valor ao capitalista individual através da maior produtividade, e mais-valor relativo, que é quando tal produtividade se espraia no modo de produção normal da sociedade.]

Referências

  • O Capital, Livro I, Karl Marx.