O que é totalidade concreta?
”O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações; portanto, é a unidade do múltiplo.” (Marx)
A totalidade concreta é a categoria fundamental da realidade social. Mais de que uma mera “soma das partes”, ela é uma totalidade de elementos dialeticamente opostos uns aos outros, cujas contradições oriundas desses atritos resultam na dinâmica do todo.
Tais contradições
”compõem de maneira indissolúvel a essência da própria realidade, essência da sociedade capitalista” (LUKÁCS, p. 79)
A realidade é, em si, “total”, ao contrário de como o idealismo vê a sociedade, em que
”o concreto aparece como processo de síntese, como resultado”
ou de como o materialismo vulgar o vê, em que a realidade é, em si, “fragmentada por natureza”, e resta-nos estudar as partes individualmente, e “tentar criar uma totalidade” post-festum.
23/07/2022: o marxismo vulgar segue os passos da ciência formal, de decompor a realidade ─ou seja, ana-lisando ela, aná-lise, ideia de quebrar em partes constituintes─, mas não refaz o caminho de reconstituir a totalidade a partir das partes analisadas; portanto, limita-se a acreditar que a realidade é uma soma de partes disjuntas; não reconstroi o concreto analisado em pensamento (Método de Abstração e Concretização)
Sobre as contradições na totalidade concreta
As contradições são parte fundamental da totalidade concreta, algo que não é contemplado, por exemplo, pelas teorias das ciências naturais, onde contradições apontam para shortcomings do modelo teórico.
Invés de serem algo “paralisante” (como na lógica usual), tais contradições dialéticas levam ao desencadeamento de uma dinâmica social, de novos resultados e disrupções (ou de abnormalidades que tomamos por batido no cotidiano…).
Sobre a ação recíproca entre os elementos
Os elementos que compõem a totalidade concreta encontram-se numa ação recíproca (invés de unilateral), de forma opositiva.
Porém, tais elementos não são eternos; tal ação recíproca não se dá como na 3ª lei de Newton entre duas partículas (imutáveis em substância). Os elementos componentes da totalidade concreta são processos, são mutáveis por essência.
Formas de objetividade induzidas pela totalidade concreta
”Um negro é um negro; somente em certas condições ele torna-se um escravo. Uma máquina de tecer algodão é uma máquina de tecer algodão; somente em certas condições ela torna-se capital. ” (Marx)
A relação dos objetos com a totalidade concreta dá a estes suas formas de objetividade, i.e. sua aparência enquanto fenômeno.
Note-se que é somente pela visão dialética que pode-se quebrar com a aparente a-historicidade dos fenômenos: sua aparência se dá por sua relação com sua respectiva totalidade concreta em um dado período e espaço histórico! Tal aparência se dá como sua “representação necessária” dentro do sistema em que está inserido.
Referências
- Lukács, G. O que é marxismo ortodoxo?. In: História e Consciência de Classe. Martins Fontes, 2003.