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”O que o boi nos rebanhos enormes não comia era rapidamente arrancado para fazer lenha ou forragem pelos colonos. A rede infinita de caminhos do gado sulcados no solo estéril e friável acelerou a erosão. (…) Ficou evidente para os próprios sertanejos [do século XVIII e XIX], bem como para eventuais visitantes sertanejos, que estavam desertificando partes do Sertão e provavelmente também alterando seu clima.” (Mike Davis, “Holocaustos Coloniais”)

“O açúcar arrasou o Nordeste. A úmida faixa litorânea, bem regada pelas chuvas, tinha um solo de grande fertilidade, muito rico em húmus e sais minerais, cobertos de matas da Bahia ao Ceará. Esta região de matas tropicais se transformou, como disse Josué de Castro, numa região de savanas.
[…] Os incêndios, que abriam a terra para os canaviais, devastaram as matas e com elas a fauna; desapareceram os veados, os javalis, os tapires, os coelhos, as pacas e os tatus. O tapete vegetal, a fauna e a flora foram sacrificados, nos altares da monocultura, à cana-de-açúcar. A produção extensiva esgotou rapidamente os solos.” (Eduardo Galeano, p. 95)

O clima e vegetação do Sertão nordestino não são influenciados somente pela sua localização geográfica interplanáltica, de Clima Tropical Semiárido, mas também pelo caráter precário das atividades econômicas ao longo do período colonial.

Similar ao caráter de que A exploração brasileira ‘até o sabugo’ é um resquício colonial, em que os fins da atividade econômica justificam seus meios precários, a criação de gado na região do Sertão nordestino foi feita de maneira inconsequente.

Em particular no século XVIII, durante o gold-rush brasileiro em Minas Gerais, a produção de carnes secas para a alimentação dos mineiros ganhou destaque; mesmo com a decadência mineira, a grande quantidade de cabeças de gado perpetrou um overgrazing no Sertão nordestino, o qual também era açoitado pelas “agriculturas de queimada” (em geral de produtos de subsistência).


Referências