up:: 068 MOC Economia Política dos Ciclos
Anotações (CARDIM DE CARVALHO, 1988)
Pode-se falar de ciclos no tocante à sua regularidade:
- Regularidade fraca: há alternância entre picos e vales, mas não há periodicidade
- Regularidade forte: há alternância periódica entre picos e vales
Há evidência empírica de Ciclos de Juglar (6-12 anos) e Ciclos de Kondratiev ( anos) — portanto, há necessidade de explicação teórica deles!
É, porém, discutível da própria existência dos ciclos per se. São um fenômeno endógeno, ou puramente acumulações de eventos exógenos?
“O ponto em questão não é se a economia tende a flutuar ao invés de se comportar regular e harmonicamente, mas se flutuações são cíclicas, isto é, se se comportam de acordo com um padrão estável e identificável. Flutuações podem ser a manifestação da dificuldade de uma economia de mercado em sustentar um comportamento agregado coerente intertemporalmente ou pode se dever a uma adaptação defasada a choques aleatórios. […] A existência de ciclos é obviamente uma questão empírica, mas uma teoria que pretenda justificar rigorosamente um processo cíclico não pode admitir interrupções ou depender da renovação eventual de choques exógenos que pudessem levar a um modo ondular de adaptação.” (DE CARVALHO, 1988, p. 745)
2.3 — Uma classificação de teorias do ciclo
Um tipo de teoria dos ciclos considera-os como parte intrínseca ao capitalismo:
“Nesta visão, assim, o comportamento normal de uma economia capitalista é cíclico. A rigor, não se pode falar de um ciclo, mas do processo cíclico, no qual um movimento ascendente necessária e regularmente engendra seu oposto e vice-versa. A economia está sempre em algum estágio identificável do ciclo numa sucessão infinita de estados.” (DE CARVALHO, p. 747)
Ou seja,
“Ciclos não começam a partir de estados ‘normais’ de comportamentos em steady-state. Ciclos são a normalidade.” (Ibid.)
Tal teoria naturalmente vem com os princípios do Multiplicador e do Acelerador, sendo este modelo multiplicador-acelerador “[o] representante teórico mais conhecido desta visão”.
Em contraste a isso, há “modelos de propagação” em que a economia encontra-se em estados estáveis, e choques exógenos forçam-na a se adaptar, o que ocorre na forma de ciclos. Nessa visão,
“cada ciclo é visto como um indivíduo histórico, começando quando um estado de repouso ou de ‘normalidade’ é rompido por um choque exógeno. A absorção do choque é marcada por avanços e defasagens que definem a forma ondular do processo.” (Ibid.)
O problema é que, como há periodicidade nos processos cíclicos, necessita-se uma teoria — também cíclica — dos choques!
De tais teorias, Schumpeter destaca-se, em que tais perturbações exógenas vêm de inovações tecnológicas. Porém, a mesma problemática persiste: é necessário também explicar a ciclicidade das próprias inovações, em que não é suficiente afirmar (como Schumpter admite, cf. Ibid, p. 748) que elas são resposta aos vales dos próprios ciclos (pois podem haver recessões sem inovação a curto prazo).
“A maioria das teorias monetárias do ciclo são teorias de propagação” (DE CARVALHO, p. 748)
“Modelos de propagação permitem uma influência a expectativas e tomada de decisões que modelos de moto perpétuo negam. Ciclos gerados por política econômica são obviamente relacionados a expectativas, mas os induzidos por inovações não são menos dependentes de um modo específico de formação de expectativas.” (p. 749)
“Em contraste, modelos de moto perpétuo não podem conferir nenhum papel essencial a expectativas ou tomada de decisões. Qualquer papel deste tipo fatalmente romperia a regularidade que é proposta como o principal aspecto do ciclo.” (p. 750)
Anotações (Castro, 1986)
Referências
- CASTRO, Antonio Barros de. Keynes e a velha tradição do ciclo. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 16, n. 2, p. 281–294, ago. 1986.
- DE CARVALHO, Fernando J. Cardim. Keynes, a instabilidade do capitalismo e a teoria dos ciclos econômicos. Pesquisa e Planejamento Econômico, 1988.